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Uma acha para a Ucrânia

Quentinho, embrulhado na manta dos joelhos a ver televisão, fico estarrecido ao ver as imagens que passam na TV a respeito da Ucrânia. Todos os pormenores me arrepiam mas, ao ver tanta neve a cair e ao saber que os ucranianos estão sem eletricidade para se aquecerem, ou a tem a espaços, experimento um sentimento de impotência com laivos de culpa por não lhes poder valer. Estava mais do que previsto que o sr. Putin iria usar o “general inverno” como arma de guerra para levar de vencida a resistência daquela população mártir. Mas esta miséria de vida sobra para todos, mas “as crianças, Senhor, “para que dais tanta dor, porque padecem assim”? Sem eletricidade hoje, amanhã e depois, porque os bombardeamentos a instalações ou centrais elétricas não param. Do canto esconso reparo num homem, vergado sobre o pau que lhe servia de bengala, que vagueava pelas ruas desertas e casas arruinadas! Procurava gravetos para acender uma provável tímida fogueira ou quiçá o lume do caldo!!! Perguntei-me o que poderei fazer? Provocação para lá da inquietação. Por exemplo, que socorro imediato pode existir para com esses que procuram no graveto as achas que não têm? Então, murmurei: onde estão as madeiras ardidas nos incêndios anuais, em Portugal? Não poderiam algumas seguir para a Ucrânia que tirita de frio? Não sei onde estão essas árvores; mas talvez a apodrecer num qualquer empilhamento com muitos bolores. E para não ficar apenas culpando os outros à guisa de Pilatos, veio-me à lembrança que todos nós poderíamos dar uma acha para aquecimento daquela gente já que não tem outros recursos de aquecimento. Quanto custará uma acha? Talvez 50 cêntimos. Como operacionalizar uma dádiva destas? Não falta em Portugal quem se tenha profissionalizado em fazer peditórios: poderíamos depositar em todos os supermercados, hospitais, serviços públicos, escolas etc.; em todos os sítios onde a “caixa da acha” estivesse visível. E cada criança habituar-se-ia a ver o que é solidariedade na verdade da sua substância. Até a esmola menor se pode transformar na maior quando damos o pequeno contributo.Estas são das que aquecem o corpo e a alma. Não foi assim que a esmola da pobre viúva que Jesus nos fala em mais uma das suas parábolas?? Depois, há países que têm florestas enormes, onde um desbaste das que não servem senão para queimar, poderiam ser carreadas para as lareiras apagadas da Ucrânia. E há fábricas de serração que poderiam doar as suas aparas… e, neste peregrinar de possibilidades de ofertas para minorar os que sofrem, não posso esquecer aqueles que em vez duma simples acha, podem dar uma “floresta”. No próximo sábado vamos brindar ao Ano Novo. Vamos pedir-lhe que dê aos meninos da Ucrânia uma acha para aquecer os seus pés regelados.Nasceria no íntimo de cada criança o hábito de dar e a convicção de que a ideia de solidariedade faz parte da doutrina daquele Menino que acabara de nascer. Sinto que é preciso tornar concreta a doutrina que ouvimos pregar. Há por aí muita gente que já não acredita na doutrina que fala apenas dos filhos do céu e se esqueceu de virar os olhos para os filhos da Terra. Toda a crise começa pelo virar de costas que é via larga para o abandono. O racionalismo fez a fé pequena; é preciso que a fé seja concreta para se tornar grande. Nela tudo começa: a fé se torna doutrina e a doutrina se torna igreja. Quem perde a primeira nunca aceitará as seguintes.
Autor: Paulo Fafe
DM

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26 dezembro 2022