twitter

Um Verão diferente...

Em poucos meses o país passou do otimismo ao pessimismo, da euforia política ao pânico resultante da ansiedade provocada pelo Covid-19, que continua a fazer vítimas, e da queda duma economia frágil e demasiado dependente de fatores externos. Convém porém não esquecer que há dez anos atrás, se dizia, entre outras coisas, "que a nossa riqueza por habitante vinha sistematicamente a reduzir-se face ao mundo e à própria Europa, que nos encontrávamos entre os países mais endividados do mundo, com menor crescimento, a consumir mais do que produzimos, a não ter poupanças, a precisar todos os anos de contrair externamente novos empréstimos, em permanente risco de ruptura no financiamento ao nosso Estado e ao sistema financeiro, e com dificuldade em entender que era urgente mudar drasticamente o nosso modo de vida." Isto para demonstrar que sempre vencemos desafios mesmo quando em crise económica. O Coronavírus surgiu quando o país dava sinais de mudança e perante um cenário político favorável nomeadamente a nível interno, com um orçamento do Estado aparentemente controlado e que devolvia aos cidadãos uma motivação e uma nova esperança. O país tornou-se solidário, aceitando as medidas impostas pelo governo e as orientações da Direção-Geral da Saúde, como parte da solução, ao mesmo tempo que surgiam informações repetidas até à exaustão, sobre o número de vítimas em todo o mundo. Por cá o confinamento, o fecho de serviços, de empresas e de instituições foram o sinal evidente da gravidade da situação. De repente sucediam-se alterações enquanto se repetia e pedia para ninguém sair de casa a não ser por motivo devidamente fundamentado ou urgente. Mas se uma medida como a "Lay-off" visou o apoio às empresas e aos trabalhadores, no sentido de manter os postos de trabalho e prevenir despedimentos, a verdade é que a economia começou também ela a ser uma crise inevitável, que o país tinha de tentar controlar, de tal forma que as preocupações do governo mereceram apoio político da própria oposição. O levantamento progressivo das medidas de confinamento e a avaliação periódica da situação são demonstração do cuidado em gerir o momento perante um cenário agora considerado preocupante, quer pelos receios do possível agravamento da pandemia, quer pelos sinais evidentes de aumento de desemprego, fecho de empresas, necessidade de prolongar ou desenvolver políticas sociais, para evitar o aumento da pobreza e mesmo situações graves de instabilidade social. Na verdade já se levantam vozes dizendo que caminhamos rapidamente para uma bancarrota, coisa indesejável para todos. Falar de férias, de abertura de fronteiras, de restauração, praia, festas ou convívios parece ser ainda algo que não motiva os cidadãos, demasiado apreensivos quanto ao futuro. A esperança tão desejada é posta agora em causa perante imagens de grupos que se manifestam ou passeiam aparentemente sem respeito pelas regras necessárias e tantas vezes referidas, nomeadamente nos órgãos de informação e comunicação. Por tudo que referi, julgo evidente que vamos ter um Verão diferente e de incerteza em vez de esperança.
Autor: J. Carlos Queiroz
DM

DM

15 junho 2020