Tentei perspectivar os resultados eleitorais e escrever a crónica desta terça-feira com alguns dias de antecedência. Cheguei mesmo a fazer várias tentativas, mas acabei por não arriscar. O risco é coisa que se não deve utilizar de forma arbitrária e também na escrita de crónica apostar de qualquer jeito quando o grau de incerteza ainda é significativo pode ser especulativo. Claro que os resultados globais dos maiores partidos eram expectáveis, mas faltava informação mais fina que nestas eleições não era fácil antecipar. Sem o conforto de uma probabilidade maior em que confiasse, esperei para ver o que sucederia com os partidos mais pequenos e, em concreto, com o CDS e, sobretudo, o Chega. Por isso, só depois das primeiras projecções achei que podia desenvolver algum comentário sobre a jornada eleitoral, ainda que informativamente incompleta. Mesmo assim, tive que me apressar, bebendo nas fontes de todas as probabilidades disponibilizadas pelas diversas empresas de sondagens até à hora em que inicio os comentários que se seguem e que partilho com os leitores do Diário do Minho.
Mais de nove milhões de eleitores reuniam condições para eleger os seus representantes autárquicos, mas só metade ou um pouco mais, de acordo com as primeiras projecções, quiseram ou puderam participar, logo para escolher os políticos de maior proximidade do sistema democrático em Portugal.
Os resultados ainda provisórios abrem a expectiva de que pode haver um tempo novo, com os actuais líderes social-democrata e centrista ou sem eles. Os piores cenários não se confirmaram e aqueles podem, se quiserem, manter-se nos cargos por agora.
Apesar dos resultados evidenciarem uma recuperação do PSD face às sondagens pré-eleitorais, Rui Rio não conseguiu criar uma onda de mudança. Não convenceu. O que fica mesmo é isto e é pouco. E bem pode queixar-se dos adversários internos, que só aparentemente o deixaram trabalhar, embora tivessem comparecido nos últimos dias de campanha para lhe dizerem que querem tomar a sua função. Mas, não está isento de culpa, nem que seja por omissão.
O Governo andou em peso na campanha eleitoral. O PS ganhou com isso e venceu as eleições, embora sofrendo várias derrotas, algumas significativas, como Coimbra, Funchal, Barcelos e Lisboa. Contudo, ficaram sinais de que o Executivo e o PS perderam credibilidade e a simpatia do eleitorado. Não haverá uma directa e total transposição dos resultados para as legislativas, no entanto, Costa obriga-se a retirar consequências dos resultados, apesar de ter desvalorizado o sucedido e ter dito que pouco ou nada se alterou. A verdade é que o partido rosa perdeu doze câmaras municipais. As legislativas estão já aí e a partir de agora nem os milhões farão milagres. Costa não pode fazer mais. O que fez já foi escandaloso. Acrescentar algo à pornografia dos meios utilizados transformar-se-ia num caso de polícia.
O Chega não surpreendeu, mas estabilizou a ideia de que terá, já na próxima legislatura, um grupo parlamentar. Já não há dúvida que vai tornar-se um partido relevante, como diz André Ventura.
2. Agora começa o futuro
Em Braga, os resultados foram os esperados. Pareceu-me, desde o início, que o futuro da candidatura socialista não seria o próximo futuro, mas, eventualmente, o que seguirá ao actual presente. A imagem de um novo presidente com rosto do passado não passou. Já se sabia. Além do mais, o entusiasmo da máquina partidária ficou a léguas do que foi no passado. Ninguém acreditava ser possível destronar Ricardo Rio recorrendo a uma personalidade ligada ao passado. Nem o partido, nem o próprio candidato Hugo Pires. E quando se não acredita, fica até difícil motivar quem se dispõe a participar. Em Braga vai começar o futuro, mas não com o candidato socialista. A coligação de centro direita, no entanto, perdeu gás, embora tivesse mantido a maioria absoluta. Os temas requentados do nó de Infias e das Sete Fontes continuam na agenda. Estou convencido de que ou a coligação coloca um pisco nestes assuntos, como noutros, ou a população não lhe dará o benefício da dúvida da próxima vez.
Autor: Luís Martins
Um tempo novo?
DM
28 setembro 2021