Nesta altura, sentimo-nos todos náufragos de uma interminável «tempestade» de aflições e, ao mesmo tempo, mendigos de um vislumbre – estreito que seja – de felicidade.
As dores teimam em não cicatrizar. E a felicidade, essa, parece extraviar-se no fugidio estendal das recordações longínquas.
Ainda não cessaram os (devastadores) efeitos da pandemia. Mas temos de nos mobilizar para a ingente tarefa de reconstrução da humanidade.
Depois de tantas «bátegas» de dor e de tão tormentosos «vendavais» de infelicidade, é imperioso que nos centremos no essencial.
E o essencial passa por nos recompormos das dores e por não vacilarmos na procura da felicidade. É impossível uma vida sem dor. Mas, mesmo na convivência com a dor, é sempre possível deixarmo-nos afagar pela felicidade.
Incumbe-nos, por conseguinte, reconstruir a cidade, combalida após tantos – e tremendos – sobressaltos. A ninguém é lícito eximir-se à missão de se tornar reconstrutor de uma «feliz… cidade».
É por este meridiano que transitam as páginas da magnífica obra de D. Manuel Linda: «Construtores da cidade feliz».
Editada em plena «explosão» da pandemia, a presente colectânea de ensaios assinala a direcção certa e aponta o rumo que urge tomar.
O Autor remete para a – por vezes, tão negligenciada – «Doutrina Social da Igreja», nas suas «propostas racionais e sensatas» bem como nas suas «orientações seguras e necessárias».
O «elemento central e permanente é o anúncio da mensagem evangélica». E, como sabemos, o Evangelho transporta o paradoxo insuplantável da vida na própria morte. Pelo que a felicidade não está excluída das situações mais críticas e padecentes.
Temos de contar com as adversidades que se intensificam, mas não podemos subtrair-nos às possibilidades que se erguem.
Todos nós, crentes ou não, reconhecemos o «valor absoluto da pessoa». Deste modo, ninguém há-de ser esquecido ou descartado.
A «ética do dom» vai ser cada vez mais decisiva. O «grande contributo da fé cristã passa pela abertura para a relação».
Assim sendo, cada «pessoa é chamada a conviver com os outros e a ser irmã». Não é legítimo qualquer «direito à indiferença».
A «abertura do amor é universal: atinge a todos», com «uma especial sensibilidade para com aqueles que […] não se podem inserir naturalmente na sociedade».
De facto, os preteridos do mundo têm de ser sempre prioritários para os seguidores de Cristo na terra.
O radicalismo é perigoso, mas uma certa radicalidade avulta como imprescindível. Trata-se da «radicalidade evangélica» no «amor que se entrega sem reservas».
A educação enquanto «via da felicidade» desponta – aqui – como eixo determinante. Ela incluirá até a santidade como «pressuposto» e como «meta ética da democracia».
É que – já notara o sábio de Hipona – verdadeiramente feliz é «quem encontra Deus».
E nem os infortúnios são capazes de obstar a esse impreterível – e felicitante – encontro!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira