No passado dia 7 de Novembro, a Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Braga (SCMB) promoveu uma homenagem à pessoa do seu ilustre Provedor, Dr. Bernardo Ferreira Reis, em cerimónia pública a que tive a honra e o privilégio de assistir e que teve dois distintos palcos e significados: um religioso, na Igreja do Hospital de S. Marcos, onde se deu graças a Deus pela vida do homenageado; outro civil, o do Teatro Circo, onde o foco incidiu sobre a vida e obra do Homem e do Provedor cujo exemplo virtuoso foi apontado como farol para as gerações vindouras.
Foi uma homenagem justa, merecida e oportuna a alguém que, sem exagero, a história recordará como um dos mais humanistas, empreendedores, visionários, altruístas, corajosos e cultos provedores da SCMB, dotado de uma enorme verticalidade e capacidade de trabalho raras e de uma ímpar mundividência.
Não vou hoje aqui discorrer sobre os traços biográficos do homenageado nem do seu extenso rol de realizações que tão desenvolvidamente foram evocados pelos intervenientes na referida cerimónia e ilustrados com fotografias e vídeos que valem muitíssimo mais de quantas palavras eu pudesse agora dizer.
O meu propósito é mais singelo e modesto: evocar uma obra marcante a que a pessoa do Dr. Bernardo Reis ficará para sempre ligada e que representa a jóia da coroa do património da SCMB: o primitivo edifício ou núcleo central do Hospital de S. Marcos, fundado em 1508 pelo grande Arcebispo e Senhor de Braga, D. Diogo de Sousa e entregue à gestão da Misericórdia bracarense em 1579, pelo Santo Arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires. E desta forma simples e despretensiosa render preito de homenagem ao meu bom e leal amigo Dr. Bernardo Reis, a quem muito admiro.
Como é sabido, na sequência da intervenção do Estado em 1974 e da abertura do novo hospital de Braga em 2011, o edificado do hospital de S. Marcos, nele incluído o Palácio do Raio, foi entregue à SCMB sem um atempado aviso prévio e sem acautelar justas condições de devolução. Não obstante, a Mesa Administrativa soube contornar as imensas dificuldades com tenacidade e bom senso, de tal forma que, em pouco tempo, pôde devolver à cidade a usufruição daqueles dois espaços, superiormente recuperados e adaptados a novas e utilíssimas funções.
Sobre a notável e três vezes premiada intervenção no Palácio do Raio, onde foi instalado o Centro Interpretativo das Memórias da Misericórdia de Braga, já escrevi nas colunas deste jornal pouco depois da sua abertura ao público. O que não publiquei aqui foi um texto que, em 22/09/2018, escrevi na minha página do Facebook, sobre as obras de restauro, recuperação e adaptação a hotel do núcleo central do velho Hospital de S. Marcos. É esse pequeno texto que agora, com muito gosto, aqui deixo à disposição dos meus estimados leitores, com um grande abraço ao homenageado e meu bom Amigo, Dr. Bernardo Reis. Ei-lo:
“Tive hoje o ensejo de visitar o Hotel Vila Galé, em Braga, instalado no antigo Hospital de S. Marcos e inaugurado em Maio do corrente ano, acompanhado pelo seu director e pelo meu amigo, Dr. Bernardo Reis, muito ilustre Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Braga, proprietária desse histórico edifício. Os trabalhos de recuperação e restauro foram de excepcional qualidade, tendo permitido uma perfeita e harmoniosa adaptação dos espaços à nova finalidade sem beliscar a traça e os seus elementos construtivos fundamentais e pondo a descoberto vãos e alvenarias de granito de belo recorte. Com uma decoração sóbria e adaptada a cada um dos seus variadíssimos espaços e recantos, alia o antigo ao moderno, o passado ao futuro, contando através de pinturas, objectos de arte sacra, instrumentos hospitalares e cirúrgicos, lápides e inscrições e imagens e textos apropriados a história da cidade dos arcebispos e do próprio edifício hospitalar onde o hotel está sediado. Neste sentido, pode mesmo falar-se de um hotel-museu que proporciona aos seus hóspedes história e cultura q.b.! Estão, pois, de parabéns o grupo hoteleiro Vila Galé, responsável pela obra e pela exploração do hotel durante o período de 40 anos - equivalente à duração do direito de superfície que adquiriu -, e a Misericórdia de Braga, pela visão que a sua Mesa Administrativa e, em particular, o seu Provedor revelaram ao permitirem a conservação e melhoramento de um dos mais emblemáticos monumentos da cidade e a sua colocação ao serviço do turismo, da economia e da cultura regionais. É um orgulho para Braga e para os bracarenses disporem de uma estrutura hoteleira e de restauração de tão elevado conforto e de tanta beleza!”
Autor: António Brochado Pedras