Sou militante do PSD há mais de um quarto de século e dou um testemunho numa hora de decisões para o país; repito: do país. É o que hoje está em causa, mais do que nunca.
Ano passado (é verdade) Rui Rio foi reconduzido para presidir o PSD, para encetar um caminho de credibilidade para governar Portugal. Muitos aí – entre os quais o actual desafiador à liderança – asseguravam uma certeza de assim o ser e desejar, tudo num apoio seguro a esse desígnio. Apoiei em tempos Rangel à liderança, tenho respeito e estima, mas não vejo razões para a confiança dada a Rui Rio e depositada em 2020 se esvair. E perguntem-se: o que desde aí até hoje merece esta contenda interna, que alteração de circunstâncias (substantivas, fortes e notórias) advieram para revogar o sinal então dado ao país? Pelo meio tivemos umas eleições regionais dos Açores em que o PSD logrou, depois de duas décadas de governos socialistas, ascender ao executivo e umas eleições autárquicas que redundaram num sucesso político inegável com a conquista de câmaras de referência, entre as quais a capital contra ventos e marés. Se nos desaires ao líder se exige o assumir de responsabilidades, nas vitórias tem este o direito de as capitalizar, menos Rio ao que parece por qualquer fenómeno inexplicável.
Não há, pois, qualquer razão profunda que justifique, nesta altura, uma refrega partidária, em tempos que deviam de ser os de apontar baterias para uma alternativa ao PS. É verdade que haverá um efeito do novo, mas não quando o tempo escasseia e o novo se esfumará por discussões internas afastando o sentido que só pode ser o país, (já o dissera Rangel há pouco, há muito pouco). É que o que passa dentro do partido tem necessários reflexos e efeitos que se expandem para o exterior, não fosse o PSD um pilar da nossa democracia, um esteio das liberdades, historicamente alicerce dos destinos de Portugal.
O país está cansado de joguinhos políticos e quer, como deveria querer o PSD, uma alternativa que ultrapasse estados de alma ou actos de fé. Uma alternativa que ganhe o centro, pois é aí que sempre o partido ganhou eleições.
Rui Rio cumpre, ignora oportunismos políticos ou pequenas estratégias que apenas alimentam querelas fúteis. Tem coragem, capacidade de luta, alma e carisma, não aferida pelo ser mais ou menos bem quisto pelos media, ter ou não uma boa oratória. Um bom primeiro ministro não tem de ter uma áurea de simpatias fáceis ou outras adjectivações simplistas. Tem de ser sério, competente. Rio é um gestor com provas dadas, um homem do social e da solidariedade, tem palavra, é firme, é prudente e reflexivo no sentido de não ser impulsivo. Não é um típico fazedor de política, mas um político que faz e quer fazer. Procura agregar (como sucedeu com Santana Lopes após a derrota interna deste), mas não há como se os possíveis agregados também não quiserem sê-lo. É, pois, uma voz credível numa social democracia popular, mas não populista, moderna e não ululante, incontida ou de consumo rápido. Rangel candidatou-se, ao que se previa na altura, para ser o líder da oposição, mas estamos já a discutir a possibilidade imediata do governo do país. Deveria perceber esta linha, evitando aparecer, não pelos seus méritos (que os tem) e quem é, mas como a face de lanças de quem não é a seu favor, antes é contra Rio. E enquanto outros fazem campanha para vencer as próximas legislativas, o PSD vai perder-se em confrontos no seu seio, bem assim permitir ao PS que, de uma penada, consiga desfocar o desgoverno que se instalou, o fim da geringonça, a atrapalhação autárquica. Ao menos deve Rio procurar, dentro do que for capaz, concentrar-se mais no país, nos seus anseios. Não precisa de dizer quem é, quem foi ou o que pretende ser; quem o precisar que o faça. Só assim o PSD não deixará António Costa “gozar de palanque”.
Autor: António Lima Martins