Vivemos muito próximo de um barril de pólvora nesta mudança brusca do nosso quotidiano devido a uma grave situação problemática de Saúde Pública que afecta a humanidade.
Atravessamos uma crise pandémica cuja capacidade de a debelar depende crucialmente de cada um de nós no cumprimento integral das recomendações das Organizações Institucionais de Saúde, e do nosso dever de cidadania.
Não podemos admitir a desagregação dos princípios elementares consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos que doutrina a consciência de que “devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade” no espírito humanístico da igualdade à dignidade do tratamento da doença e da qualidade de vida.
Isto vem a propósito de um lamentável incidente ocorrido na cidade La Línea de La Concepcion, situada na província de Cádis, sul de Espanha, relativamente à transferência de vinte e oito idosos supostamente infectados com o coronavírus “Covid-19” e que foram recebidos por cidadãos à pedrada e arremessos de engenhos explosivos, além da danificação de património público como a destruição de contentores e destruição de outro equipamento logístico urbano distribuído pela citada localidade.
O autarca classificou este “grupo de pessoas indesejáveis e sem cérebro que não representam a cidade” e numa mentalidade acéfala estes indivíduos depreenderam que os idosos infectados “iam andar à solta na cidade”, o que implicaria ainda mais o alargamento do período do regime de confinamento e o alastrar das vias da propagação de enfermidade pelo contacto contíguo com o doente contagioso.
Esperemos que esta inadmissível e triste ocorrência seja um caso isolado. Jamais se poderá admitir o retorno da mentalidade absurda protagonizada no período etimológico da doença da Lepra, pela total rejeição social dos doentes infectados na comunidade ou abruptamente abandonados à sua sorte, ao seu sofrimento e à deplorável ausência de solidariedade generosa, bem-intencionada, da cooperação institucional, da compreensão por quem está desesperadamente doente e sofre por ser incompreendido, pelo sentimento deprimente da carência da partilha de um sorriso, de um abraço fraterno ou de um olhar de esperança e de felicidade.
O “Covid-19” não é uma doença exclusivamente para velhos. Como tudo na vida, pode tocar a todos sem excepção, sejam fortes ou fracos, não escolhe idades, ricos ou pobres, estratos sociais, poder económico, crenças religiosas ou convicções ideológicas ou políticas.
Nesta fase de mitigação epidémica, urge aliar-nos todos em comum pelo mesmo objectivo de supressão virológica para que a normalidade volte às nossas vidas, sem deixar de meditar sobre este alerta vermelho como aprendizagem na construção sólida dos mecanismos preventivos contra futuras pandemias epidemiológicas.
Autor: Albino Gonçalves
Um barril de pólvora…
DM
30 março 2020