Um ano está prestes a terminar e outro está mesmo quase a começar. O que fica de um são factos, frustração em relação ao que correu menos bem e satisfação para aquilo que foi positivo. Relativamente a 2022 apenas há neste momento expetativa, esperança e fé.
2021 termina ainda sob o signo da pandemia, sem fim à vista, para já, pelo menos. Depois da esperança que foi o processo de vacinação, fica um amargo de boca provocado pelo não desaparecimento da pandemia de Covid-19, e o aparecimento de novas variantes, porventura menos agressivas, mas mais infeciosas. Muitos começam já admitir que pandemia vai transformar-se numa endemia, como uma gripe que também mata, se calhar até mais do que o novo coronavírus SARS-Cov-2. Do ponto de vista ambiental, o ano não termina famoso, pese embora alguns avanços conseguidos na Cimeira Climática de Glasgow que terminou há poucos dias, mas sem se conseguir eliminar a utilização nas próximas décadas do carvão e dos combustíveis fósseis. Parece que, mesmo com a casa a arder, os ocupantes optam pela estratégia de deixar para as gerações futuras a resolução do problema.
Do ponto de vista económico, as coisas parecem igualmente bastante incertas. Desde logo,incerteza relativa ao crescimento económico. Para haver crescimento económico é necessário estabilidade e a evolução da pandemia, não permite ainda configurar uma verdadeira retoma. Incerteza relativamente ao modelo económico, resultante da transição energética e um conjunto de indústrias que correm o riso de se tornar obsoletas (a indústria automóvel baseada em motores de combustão interna é um exemplo) e incerteza relativamente à reorganização da logística mundial. De facto, num mundo global, é muito importante que os diferentes elos da cadeia estejam bem oleados. Ora, não é isso que tem vindo a acontecer com os centros produtores a atrasarem e a falharem o fornecimento de peças e produtos, bem como a escassez e aumento do preço de muitas matérias-primas a atingirem máximos históricos, deixando antecipar o regresso da inflação.
Também politicamente, não podemos estar satisfeitos. Diversos regimes autoritários, têm vindo a reforçar o seu autoritarismo, sem grandes complexos. É o caso da Rússia, da China e mesmo da India. Outros países, com impacto a nível mundial, como é o caso do Brasil, serpenteiam entre o populismo, a ignorância e a corrupção.
Apesar dos americanos se terem conseguido libertar-se de Donald Trump, uma personalidade cujo enorme ego apenas encontrava paralelismo na sua ignorância cultural, a nova liderança de Joe Biden, algo titubeante, não tem conseguido granjear a confiança necessária para dar um novo alento ao Ocidente.
Na União Europeia, a incerteza é também o padrão. Com a saída de Angela Merkel da chancelaria alemã, a Europa perde verdadeiramente a sua referência de liderança, ainda a ressacar do Brexit e a procurar reagir a iniciativas peregrinas de países como a Polónia e a Hungria, pouco envolvidos no desenvolvimento de um espírito pan-europeu.
Dentro de portas, estamos prestes a iniciar um novo ciclo político, ou não. Tudo depende das escolhas que forem feitas. Perante a incapacidade na reforma do sistema político e alguma descredibilização nos partidos políticos tradicionais, enredados em lutas intestinas pelo poder e escândalos de corrupção, têm aparecido novas propostas políticas, mas que, seja pela ingenuidade, seja pela juventude, seja pela aposta em ideias populistas, com pouco conteúdo, não têm conseguido afirmar-se, dividindo ainda mais o espetro político.
Uns acenam com o ouro proveniente de Bruxelas, para fazer esquecer as reformas que são necessárias e tardam em ser feitas enquanto que outros perdem a oportunidade em tornar claro o que propõem.
Daqui a um ano estaremos todos certamente a fazer um novo balanço e a antecipar o ano que que irá começar. Verdadeiramente, o que irá mudar, entretanto?
Autor: Fernando Viana