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Um abraço de gratidão; até breve…

No passado domingo, dia 8 de Outubro, o nosso querido pároco, Pe. António Gomes Lima, celebrava o 84.0 aniversário natalício. Desde há muitos anos nos habituou a conviver à volta de uma agradável refeição, mas dando relevo ao louvor a Deus e gratidão àqueles que nos geraram e tudo por nós fizeram. Sabendo da minha debilidade física, como a dele, fez questão em requerer ao seu querido sobrinho, professor Miguel, para nos levar à capela de Nossa Senhora da Saúde, onde a prioridade era agradecer o dom da vida e suplicarmos a saúde tão debilitada que nos traz tão frágeis e unidos. Era tão firme este seu propósito que as forças físicas não o acompanharam. Não pôde presidir à concelebração, mas pensou e agiu em relação a mim: não te canses, ficas dispensado da homilia. Terminado este momento litúrgico, ainda teve forças para agradecer aos presentes as orações e a comunhão que nos congregava em autêntica família. Este momento ainda era prolongado pela habitual confraternização. À volta de uma grande mesa, duas famílias se congregaram, a família de sangue, e a sua família espiritual que há cinquenta e cinco anos constituiu, representada pelos membros empenhados na comunidade. Fez questão na presença do actual pároco que o substituiu, o Pe. Manuel Alves da Silva. A alegria sofrida era ver-se rodeado e acarinhado pelos amigos, mesmo sem se poder alimentar. Ao pensarmos no seu descanso, Deus Pai reservou para ele o descanso eterno. Ainda assinalou momentos tão importantes que o identificaram connosco querendo ficar sepultado entre nós. A nossa vida é um grande mistério. Só no silêncio sofrido, Deus permite deslumbrar-nos com as maravilhas eternas de que o tempo jamais é senhor. Mistério é a nossa vida! Somos um dom gratuito e generoso que só em Jesus Cristo podemos aprender a balbuciar aquilo que ultrapassa o tempo e nos introduz na vida eterna. Nenhum de nós veio a este mundo por requisito próprio ou por iniciativa própria. O nosso querido pároco identificou-se com este povo, mas sobretudo com as suas dificuldades. Quando aqui chegou, ainda teve de esperar pela luz eléctrica cerca de quinze anos. Acompanhou o drama de muitos paroquianos que, para enfrentarem as dificuldades económicas da vida, tiveram de sair para a aventura do desconhecido. Era o tempo duma emigração reprimida e perseguida. Compreendeu e acompanhou o drama destas famílias, a sua verdadeira família. O Pe. Lima, com dez anos de vida, ajudado sobretudo pela sua querida mãe, começou a saber distinguir o tempo da eternidade. Criança ainda, usando o único transporte que dispunha, mais de duas horas, vinha a cavalo até Cabeceiras de Basto para se dirigir à escola dos Seminários de Braga. Cinquenta e cinco anos de vida pastoral deixaram as suas marcas indeléveis. A mais marcante foi, por direito próprio, adquirir o epíteto de Abade, verdadeiro Pai espiritual, pela perseverança e dedicação, superando as mais difíceis invernias, mereceu esta qualidade. Se foi uma preocupação atenta na preservação do património da paróquia de S. Bartolomeu do Rego, capelas de S. Pedro, S. Bento, Senhora da Saúde, igreja paroquial e residência paroquial, muito mais a comunhão e harmonia entre os seus paroquianos, sobretudo aqueles que desta paróquia foram dedicados ao pastoreio e serviço da pastoral diocesana. Por fim, um gesto comovente que assinala as opções da eternidade. O tempo deixa de contar. Pede a dispensa da paroquialidade por motivos de saúde. Pelos vários pedidos que a Igreja lhe fez, durante doze anos com ele colaborei. Quando chegou ao limite das suas forças físicas, fez-me um pedido que me comoveu. No hospital onde sentia bater à porta a sua partida para a eternidade: «quero ficar sepultado na paróquia de S. Bartolomeu do Rego. Compra-me um lugar no cemitério e um simples sepulcro que será para os párocos e sacerdotes da paróquia que um dia desejem utilizá-lo». Porque pressentia a urgência deste desejo, dei a conhecer a um grande amigo seu, o Senhor José Carvalho, que à Junta da freguesia comprou uma campa que fora do pároco Pe. José Gomes, pela quantia de mil e cem euros e mandou e orientou as obras gastando a quantia de cerca de seis mil euros. Foi tudo realizado até à Páscoa em que ele já via como a sua morada eterna. Não quis nem favores da freguesia nem da paróquia, embora o merecesse. Bastava sentir-se unido a nós para sempre no tempo e na eternidade. Caro Senhor Abade, um grande abraço e até breve.
Autor: Cónego Fernando Monteiro
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14 outubro 2017