1. A mensagem do Papa Francisco para o próximo Dia Mundial da Paz trouxe-me à memória uma canção de outros tempos, com letra do bracarense António Macedo. Tinha como refrão: «Canta, canta, amigo, canta/Vem cantar a nossa canção/Tu, sozinho, não és nada/Juntos temos o mundo na mão».
Era considerada uma canção revolucionária, e é uma revolução que a propósito do Dia Mundial da Paz o Santo Padre nos convida a fazer. Uma revolução em prol do bem comum. Uma revolução que leve cada um de nós a ver no outro, seja ele quem for e pense o que pensar, um irmão. Uma revolução a favor de uma sociedade cada vez mais justa, mais solidária, mais fraterna. Uma revolução contra as injustas desigualdades de que os mais débeis são vítimas. Uma revolução que converta as armas de guerra em instrumentos de paz, como anunciava o profeta Isaías (2, 4). Uma revolução que, esquecidas ofensas e agravos, nos leve a darmo-nos as mãos e, libertos de egoísmos, faça de nós obreiros de um mundo novo. Uma revolução que elimine da teoria e da prática vocábulos e comportamentos que soem a guerra, violência, exploração, injustiça. Que converta o poder em serviço e não em domínio.
2. A mensagem do Papa Francisco para o próximo dia 01 de janeiro tem por tema «Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir de Covid-19 para traçar sendas de paz».
Dela extraio os seguintes parágrafos:
«Certamente, tendo experimentado diretamente a fragilidade que carateriza a realidade humana e a nossa existência pessoal, podemos dizer que a maior lição que Covid-19 nos deixa em herança é a consciência de que todos precisamos uns dos outros, que o nosso maior tesouro, ainda que o mais frágil, é a fraternidade humana, fundada na filiação divina comum, e que ninguém pode salvar-se sozinho. Por conseguinte, é urgente buscar e promover, juntos, os valores universais que traçam o caminho desta fraternidade humana.
Aprendemos também que a confiança posta no progresso, na tecnologia e nos efeitos da globalização não só foi excessiva, mas transformou-se numa intoxicação individualista e idólatra, minando a desejada garantia de justiça, concórdia e paz. Com grande frequência, neste nosso mundo que corre a grande velocidade, os problemas generalizados de desequilíbrios, injustiças, pobreza e marginalizações alimentam mal-estares e conflitos, e geram violências e mesmo guerras».
3. Um mundo novo, verdadeiramente humano, exige o regresso a Deus. O mundo sem Deus é o mundo do homem contra o homem, da violência, da exploração, do vale-tudo, da coisificação do ser humano. O mundo sem Deus, a autêntica história dos últimos séculos o demonstra, é o mundo dos campos de concentração, dos trabalhos forçados, dos auschwitz e dos gulag, da invasão mortífera de territórios alheios.
4. Regresso à mensagem do Papa:
«Somos chamados a enfrentar, com responsabilidade e compaixão, os desafios do nosso mundo. Devemos repassar o tema da garantia da saúde pública para todos; promover ações de paz para acabar com os conflitos e as guerras que continuam a gerar vítimas e pobreza; cuidar de forma concertada da nossa casa comum e implementar medidas claras e eficazes para fazer face às alterações climáticas; combater o vírus das desigualdades e garantir o alimento e um trabalho digno para todos, apoiando quantos não têm sequer um salário mínimo e passam por grandes dificuldades.
Fere-nos o escândalo dos povos famintos. Precisamos de desenvolver, com políticas adequadas, o acolhimento e a integração, especialmente em favor dos migrantes e daqueles que vivem como descartados nas nossas sociedades».
5. Quem deseja verdadeiramente a paz tem que ver em que mãos coloca o poder: se nas de seres humanos ou nas de monstros.
Autor: Silva Araújo