Em 2 de Junho, na Sala Paulo VI, o Papa Francisco recebeu e dialogou com adolescentes das escolas católicas do grupo 'Graal' ou 'Cavalieri'. Duas raparigas e um rapaz fizeram-lhe perguntas a que o Papa respondeu espontaneamente e de maneira pedagógica, dado o auditório que tinha diante de si.
Marta falou do medo que sentia ao ter que mudar para uma nova etapa do ensino em que ia ter muitos colegas novos e ia deixar de poder contar com os colegas com que está habituada a conviver em cada dia. Diz ao Papa que sente medo de crescer: «Não consigo e não quero imaginar a minha vida e tudo aquilo que me sucederá sem aqueles amigos que amo. Que coisa devo fazer?».
Francisco agradeceu a pergunta e respondeu que a vida é um contínuo «Bom dia» e «Adeus». E é assim que se cresce, aprendendo a despedir-se bem, pois só dessa maneira se aprenderá a encontrar novas pessoas. A dificuldade apresentada tem de ser vista como um desafio que nos coloca a própria vida. Devemos habituar-nos a ter que deixar certas coisas e encontrar coisas novas. Quem se quer acomodar, não cresce. Fecha os horizontes da vida. E o Papa usou o exemplo do muro, que impede de ver para além dele, em contraste com o campo, que nos abre o horizonte e o alarga quanto mais nele caminhamos.
É assim que devemos olhar para a vida: abrir horizontes cada vez mais amplos. Isto significa encontrar novas pessoas e novas situações. Não devemos esquecer os que foram colegas, mas devemos caminhar sempre para podermos crescer. Mais do que ter medo da nova situação, há que a encarar como um desafio. Ou o venço ou me deixo vencer por ele. Por detrás do muro, não há nada. Com o horizonte, caminha-se, e quanto mais se caminha, mais o horizonte se expande.. Devemos viver com quem encontramos de novo no caminho, para assim crescermos salutarmente.
Júlia quis saber o que poderiam fazer, concretamente, para mudar o mundo que nos rodeia.
Papa Francisco recordou que não há uma varinha mágica com a qual mudar o mundo. A mudança acontecerá com o empenho de cada um de nós nas pequenas coisas. Utilizou novamente um exemplo: alguém que tem dois rebuçados. Que é que ele pode fazer quando encontra um amigo? Quase todos os adolescentes responderam que dariam um ao amigo e ficariam com o outro. Alguns, porém, pensam: guardo-os no bolso e como-os quando ele for embora. A primeira atitude é positiva, ajuda a mudar o mundo. A segunda atitude é negativa, egoísta. Precisamos de atitudes positivas, de mãos que se abrem e partilham. E quem diz mão, diz coração. «Vós podeis começar a mudar o mundo tendo um coração aberto aos outros».
O mundo muda-se abrindo o coração, escutando os outros, acolhendo os outros, partilhando os bens. O mundo muda-se com as pequenas coisas de cada dia, com a generosidade, com a partilha, com atitudes fraternas, que nos levem ao ponto de responder com o bem ao mal que nos fazem. «Jamais responder ao mal com o mal... Rezar pelos outros. Não alimentar maus desejos contra os outros. Actuando assim, pode-se ajudar a mudar o mundo.
Tánio, nascido na Bulgária, abandonado pelos pais no primeiro mês de vida, adoptado aos cinco anos por uma família italiana, perdeu a mãe adoptiva um ano depois, ficando ao cuidado do pai e dos avós. Essa perda foi compensada pelo acolhimento dos alunos das escolas 'I Cavalieri'. Mas lançou a pergunta mais difícil: «Como é possível acreditar que o Senhor te ama, quando te acontecem estas coisas, quando te faltam as pessoas de que tu mais gostas e precisas?»
Papa Francisco respondeu que há perguntas, como a que ele fez, a que não se consegue responder com palavras. E jamais encontrarás uma resposta ao 'porquê?' Talvez consigas alguma luz olhando para o amor dos que te querem bem e te sustêm. Não há uma resposta ao: porquê acontecem estas coisas? «Porque também eu, - diz o Papa – me sinto profundamente combalido e dorido quando visito um hospital para crianças. O Senhor não me responde. Limito-me a olhar para o Crucifixo. Se Deus permitiu que o seu Filho sofresse de uma tal maneira por nós, é porque deve haver alguma coisa que tem sentido. Mas, caro Tânio, eu não consigo explicar-te qual seja o sentido. Serás tu a encontrá-lo, mais adiante, na vida ou mesmo só na outra vida. Porque explicações, como se explica um teorema matemático ou um facto histórico, nem eu sou capaz de dar, nem ninguém. A única certeza é a de que, por detrás do que te acontece, está sempre Deus. E serão os que te ajudam e te acompanham que te farão sentir o amor de Deus e assim te ajudarão a crescer».
Autor: Carlos Nuno Vaz