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Três Homens, três ideias

Este artigo foi pensado inicialmente para homenagear dois excelentes cidadãos, cujo curriculum fala por si: Manuel Rocha Armada e Luís Fontes. Ambos foram notícia pelas melhores razões na semana finda, mas permitam-me que, antes de falar e homenagear os seus feitos, evoque aqui a figura e a referência que foi e será, para memória futura, de João Lobo. Antes de mais, pela sua elegância enquanto homem, cidadão de uma elevada referência moral que merece, tal é a escassez de pessoas assim, uma especial nomeação. Não foi só como advogado, como escritor, foi-o como político e nessa dimensão, uma referência moral a que poucos podem ascender. João Lobo, com quem partilhava conversas de café sobre a ética e a moral políticas, tinha o condão, através da sua sobriedade e clareza de propósitos e de ideias, despertar a vontade de as tornar permanentes. Com ele, e com a sua notável capacidade de discernir sobre o homem político e a sua participação ativa em sociedade, ouvimos o discurso premente e exigente na hora de apelar ao voto e de combater a Indiferença nas últimas eleições autárquicas, numa sessão ocorrida precisamente na Biblioteca Pública de Vila Verde, palco do seu último ato na passada quinta-feira à noite. Tenho um especial carinho por alguém, que na qualidade de deputado, sensível à questão das crianças e jovens institucionalizados, me pediu o contributo para que se pudesse alterar a Lei de Proteção de Menores na Assembleia da República. Saiu pela porta grande. Resta-me honrar a sua memória e esperar que o seu exemplo de integridade seja seguido, sobretudo pelos mais novos.

Ver o professor Manuel Rocha Armada, da Universidade do Minho, ser considerado o melhor professor de Finanças do mundo pelo Indian Institute of Finance deixou-me feliz e com a sensação de ter sido feita justiça a quem tanto deu de si a uma instituição que por vezes se esquece dos seus. Acompanhei a sua atividade enquanto jornalista. Tive o privilégio de estreitar, posteriormente, enquanto gestor de sistemas, com a Escola de Economia a que presidiu, uma relação profícua entre universidade e empresas e sou-lhe agradecido pela oportunidade que a sua escola me proporcionou em diversos momentos da minha atividade profissional na área da gestão. O seu exemplo vivo e empenhado em construir o saber, sem doses de vaidade e com o sentido estético que o conhecimento augura a quem o percebe, é uma referência para todos. Esperemos que desta vez, a Universidade saiba usar o seu exemplo para aqueles que escolhem a área de finanças e de economia para prosseguirem a sua vida profissional. Seguramente, um outro professor e até há bem pouco tempo, diretor da Unidade de Arqueologia da mesma universidade do Minho deu-nos uma lição sobre história, de forma simples, mas de elevada autoridade, num campo do saber que muitos desprezam, sobretudo na área política e que merecia um reconhecimento que, estou certo, o tempo se encarregará de o fazer e com inteira justiça: Luís Fontes. Assisti à sua notável viagem pelo tempo quando nos apresentou, publicamente, na Livraria Centésima Página, a história milenar das Sete Fontes, da engenharia dos homens que desde o século IV, se abasteceram de água a partir daquele espaço que tarda em transformar-se numa referência para o usufruto de Braga. Ouvi as suas explicações claras e apaixonadas de quem, juntamente com uma equipa de jovens arqueólogos, teve o engenho e a arte de ir mais longe, ao estudar de forma aprofundada a herança dos povos que por aqui passaram. A sua obra, sei-o bem, é apenas um prelúdio para uma herança que tem vindo a ser defendida de forma acérrima, constante e que conhecerá, estou certo, novos capítulos. Braga precisa que cuidemos de quem cuida de nós, neste caso, do nosso passado, da nossa história comum, da sobrevivência da identidade brácara, sempre secundada em nome de Augusto, o Imperador. Luis Fontes, que se aposentou da Unidade de Arqueologia, faz parte do lote de homens bons, nem sempre reconhecidos, nem sempre louvados ou simplesmente acarinhados. O seu trabalho é a sua arma, a nossa herança e isso ninguém lhe tira, mesmo os que que teimam em não perceber ou simplesmente desprezam o que não entendem.

Os três homens aqui invocados tem em comum a sua paixão pelo Conhecimento e todos nos honram pelo seu inestimável contributo para o bem comum que devemos saber honrar e usar como exemplo. Bem hajam!


Autor: Paulo Sousa
DM

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19 dezembro 2021