Sabemos que é mais cómodo e fácil fazer coisas com e para as crianças, com e para os adultos, com e para os velhos do que com e para os jovens; e porque sempre foi apanágio da juventude a irreverência, o inconformismo, a contradição, a excentricidade e a singularidade.
Todavia, não é devido às suas caraterísticas psicológicas e sociológicas que vamos votá-la ao abandono ou não valorizar e aproveitar as suas diferenças comportamentais onde o exotismo marca presença, e, por isso, por força, verdade e alma naquilo que se faz, importando mais o interior, o móbil da ação, a intenção do que propriamente o seu desempenho, a sua execução ou, até, a sua exuberância.
Pois bem, após este arrazoado intencional e necessário, é momento e tempo de lavrar aqui o meu depoimento, tecer a minha achega, arriscar o meu surto, lavrar sentença relativamente à problemática em questão: Juventude é o quê? Onde e como? E recordar-me do que dizia o meu professor de filosofia a propósito dos cabelos compridos e desalinhados que muitos rapazes usavam: não são os cabelos compridos que me apoquentam, mas, sim, o que se esconde por debaixo e por detrás deles, ou seja o que vai no pensamento, na cabeça de quem os usa.
Ora, então, começar por dizer que a juventude é um estado de espírito (jovens de oitenta e velhos de dezoito anos), porque nós adultos somos muito responsáveis pela juventude que temos (pais dos jovens de hoje, jovens que foram ontem) não é suficiente, e, ademais, problemas dos jovens de hoje não são mais nem menores dos de outras gerações (da minha, por exemplo, com a guerra de África, a emigração ilegal, a insegurança social, a ditadura, a falta de emprego e de futuro); enfim, e as ideias que nos chegavam, embora a conta-gotas do exterior, nos acicatavam à rebeldia, à insatisfação, ao inconformismo.
Todavia, sou dos que acreditam na juventude mesmo quando, como nos dias de hoje, tenha que encetar a longa travessia do deserto: de falta de oportunidades de trabalho, da clareza e justeza de direitos e valores e de incentivos à integração escolar, familiar e social, porque ser jovem é possuir horizontes e abri-los, é ter o dom inevitável de dar e receber (saber dar e receber, saber receber e dar), sobretudo acreditar na vida e vivê-la com alegria, acreditar nas pessoas e ter esperança, que nunca morre, no amanhã, e, por isso, sou pela juventude alegre, saudável, solidária, generosa, criativa e, que assim cultiva os ideais de família, de cidadania, de liberdade, de paz e de Pátria.
Agora, porque a juventude é pouco dada a lucubrações, prédicas ou lições de moralidade, há, no mínimo, três desafios que lhe quero aqui lançar e se consignam em três princípios cívicos que julgo importantes, no mundo em que vivemos, pela desvirtuação e olvido em que caíram: o respeito pelos outros e tolerância pelos choques intergeracionais, a dedicação devotada ao trabalho e o amor às suas raizes que abarcam o patriotismo.
Se repararmos, cada vez mais se assiste ao menosprezo pela vida, pela verdade e pelo bem (material e imaterial) do semelhante através de ações de dolo, assassínio, destruição, calúnia e inveja, desencadeados impunemente e por todo o lado, e, assim, se geram sentimentos de ódio e vingança que corroem o tecido social e corrompem os valores da solidariedade, da justiça, da paz e do amor.
Igualmente a dedicação ao trabalho e entrega voluntariosa às tarefas coletivas de proveito social, à colaboração plena e desinteressada na construção de riqueza que venha a ser distribuída por todos, respeitando as necessidades de cada um, são. realidades pouco compreendidas e, obviamente, mal aceites, em tempos de egoísmos, individualismos, relativismos e hedonismos exacerbados, pela grande maioria dos cidadãos; mas a verdade é que só o trabalho gera riqueza que só ela pode ser posta ao serviço do bem comum quando é feito com dedicação, altruísmo, amor e patriotismo.
Sim, patriotismo, o tal amor às raízes que, hoje, consistirá em amor as pessoas e à terra, ao país onde se nasceu, cresceu e vive e de que se é cidadão, onde se sente acarinhado e compreendido e pelo qual se nutre um sentimento de pertença ou seja à Pátria; e que passa, fundamentalmente, por respeitar, cultivar e alargar os valores tradicionais, a cultura, a língua e o património que tão esquecidos e maltratados andam.
E estes desafios que lanço à juventude, igualmente quero lançar, aos pais, a todos os educadores, às escolas e aos responsáveis políticos e de instituições públicas e privadas como responsáveis máximos não só pelos bons como pelos maus exemplos que dão à juventude, porque, sendo certo que o futuro começou ontem, estas ideias força serão já uma boa e sólida base na preparação desse futuro. Até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado