Na vida de indivíduos e coletividades, há datas que ficam marcadas na memória de percurso. Comigo, individual e colegiadamente, tal aconteceu e prossegue acontecendo.
Assim, as datas 1942 – 1954 - 2018, além de outras, tenho-as registadas, com apreço ou nostalgia, no arquivo da minha memória, cuja chave não confio a ninguém, sem prudência nem cautelas...
Em 1942, cerca de uma centena de adolescentes, oriundos dos distritos de Braga e Viana, entraram pela primeira vez como internos no Seminário da Tamanca – Rua de São Domingos – Braga. Doze anos depois (1954), grande parte daquela quase centena concluía o seu Curso e comprometia-se solenemente em “Ordenação” a trabalho apostólico na Igreja.
Em diversas paróquias da Arquidiocese, houve, nesse ano, muitas festas de chamada “Missa-Nova”, porque um ou mais filhos da terra “cantava missa, pela primeira vez! Não faltavam engalanações, nem beija-mãos, nem banquetes dentro de casas ou debaixo de latadas...! Era a festa da “Missa-Nova”, onde não faltava nunca o pregador escolhido pelo novo padre, assim como um coro especial.
Uma dessas paróquias onde houve festa rija foi Nogueira – Viana do Castelo, onde dois filhos (Cachadinha e Arieiro) festejaram a sua “Missa-Nova”, em 1954, embora em dias diferentes.
Ora, o padre José Borlido Carvalho Arieiro (sobrinho, afilhado e conterrâneo do “dito Terror de reinado sinistro” do Seminário Maior – Santa Margarida) convidou-me e pediu-me para ser eu o Orador da sua festa, que teve lugar – salvo erro – em Setembro desse ano 1954, na dita freguesia Nogueira.
Aceitei o convite-pedido, preparei-me o melhor possível (éramos amigos, jovens de vinte e cinco anos), subi ao púlpito, saí-me lindamente (dizem), perante um auditório que enchia por completo a igreja e adro.
Ainda há poucos dias (25 de Abril do ano corrente), na reunião-convívio anual de Condiscípulos, efetuada por marcação do organizador – padre Arieiro – para Nogueira, (a fim de homenagear o falecimento do condiscípulo Cachadinha (2016) estendemos a homenagem também ao Arieiro, porque, inesperadamente falecido em Outubro – 2017, já não pudera satisfazer seu compromisso.
Na missa-sufrágio pelos dois, eu sentei-me junto do púlpito (hoje já sem escadas) e imaginei-me subindo as ditas escadas, há sessenta e quatro anos, para proferir o panegírico-sacerdotal do condiscípulo Arieiro...! Evasão feliz!!
Finda a Missa comemorativa do 76.º aniversário de entrada no Seminário, dirigimo-nos ao cemitério local, onde, junto aos túmulos respetivos, homenageámos os dois condiscípulos, orando, escutando poemas, cantando um responso.
Depois, dirigimo-nos à casa da “Família Arieiro”, onde nos foi servido um esmerado almoço-convívio, durante o qual houve preces, evocações, brindes, parabéns, palmas, bem como um “até ao ano!”, embrulhado na esperança trémula de nova reunião, talvez na “Bracara Augusta”...! Deus o queira!!!
Autor: Nunabre