Armando Matteo. O nome deste sacerdote italiano talvez seja ainda desconhecido pela maior parte das pessoas. Mas não deveria ser. E há boas razões para isso.
Há poucas semanas, Matteo foi nomeado subsecretário da Congregação para a Doutrina da Fé. Uma nomeação inesperada e singular. Apesar do tanto que escreveu ao longo dos últimos anos, Armando Matteo nunca teve um papel de destaque na Conferência Episcopal Italiana nem foi convocado para o Sínodo dos Bispos sobre os jovens. E, no entanto, dedicou toda a sua investigação à difícil relação entre os jovens e a fé.
Sabemos que a percepção pública em relação à Doutrina da Fé não é globalmente favorável. Contudo, desde a sua última reforma, levada a efeito por Paulo VI, a Congregação tem-se esforçado por dar um rosto positivo à doutrina católica segundo o princípio deixado pelo então Santo Padre: “a fé é melhor defendida promovendo a doutrina”. Compete-lhe, entre outras tarefas, promover e organizar congressos, bem como aprofundar questões sobre a fé e o diálogo com o mundo contemporâneo. É precisamente aqui que se espera o contributo e a originalidade de Armando Matteo.
Relendo algumas das suas obras mais emblemáticas, destacam-se três “avisos à navegação”. Intuições que lhe mereceram algumas críticas, por serem muito negativas, mas que agora parecem mostrar-se pertinentes.
1. Primeira geração incrédula. Por esta expressão entende-se que os jovens, nascidos a partir dos anos 80, vivem a sua presença no mundo e a construção da sua identidade sem uma referência significativa ao Evangelho, a Cristo e à Igreja. São três os sinais deste desinteresse. Em primeiro lugar, a profunda ignorância da cultura bíblica; em segundo lugar, o abandono após o crisma; por fim, o descompromisso com a eucaristia dominical. A Igreja e Cristo deixaram de ser relevantes para as suas vidas. Estas constatações levaram Matteo a afirmar que estamos perante a “primeira geração incrédula” do Ocidente: uma geração que não está contra Deus nem contra a Igreja, mas uma geração que está a aprender a viver sem Deus e sem a Igreja.
2. Eclipse dos adultos. O teólogo italiano partilha as leituras psicossociológicas que dão conta da cada vez mais tardia entrada dos jovens na idade adulta. O facto de os adultos não se comportarem como tal, ou até se negarem a sê-lo, está a reescrever o paradigma do ser humano e constitui um sério problema para as dinâmicas culturais, bem como para a transmissão da fé. Sem adultos não existem pais e, sem pais, os filhos nunca mais serão adultos. É uma bola de neve que desemboca na “morte do adulto”. Conclui, por isso, que o verdadeiro desafio não é tanto indicar aos jovens um modelo de crente no qual se inspirar, mas antes um modelo de adulto. É um sério problema antropológico que precisa de uma solução urgente.
3. A fuga das mulheres. Tidas como um pilar seguro da pastoral e vida da Igreja, ainda que nem sempre valorizadas, as mulheres – sobretudo com idade inferior a 40 anos – estão, segundo Armando Matteo, em “fuga. Alguns sinais: participam cada vez menos na missa, optam menos pelo matrimónio religioso, poucas seguem a vocação religiosa e muitas expressam desconfiança em relação aos homens da religião. As causas da fuga? Uma errada e anacrónica imagem da mulher no pensamento da hierarquia; a obsessão pela moralização com culpabilização da mulher; ambiguidade entre fé e poder, típica do mundo masculino, e a dificuldade de renovar a vida das paróquias. Conclui, por isso, que, a confirmar-se a fuga das jovens mulheres, o impacto na vida da Igreja será devastador.
Esta é apenas uma pequena parte da reflexão de Armando Matteo. São, antes de mais, pistas que visam contribuir para o fim da loucura pastoral – como lhe chamou – de quem pensa alcançar resultados novos fazendo sempre as mesmas coisas. Este não é o tempo de nos preocuparmos com o futuro da Igreja. É o tempo de o construirmos.
Autor: Pe. Tiago Freitas
Três avisos à navegação
DM
4 maio 2021