A meu ver, a Economia como ciência que se ocupa da produção e consumo de bens e serviços, da circulação de riqueza, da redistribuição do rendimento e aproveitamento de recursos, etc. etc. etc. é complexa e imprevisível nas suas previsões e nos seus resultados; e de tal modo que nem sempre a mais trabalho corresponde melhor e maior produção e, obviamente, mais riqueza para o país.
Assim, olhando à nossa volta, podemos conferir e concluir que trabalhadores há que se esforçam e esfalfam a trabalhar e dos seus esforços constantes maior suor retiram do que proveito e lucro para a empresa que servem e para si próprios; e, em contrapartida, muitos outros há com menos horas de trabalho e menos suor despendidos que produzem mais e, consequentemente, maior riqueza criam; é como diz o relojoeiro ao cliente que contesta o preço a pagar pelo serviço prestado:
– Mas, então, por uma simples e rápida pancadinha leva tanto dinheiro?
– O preço não está na pancadinha, mas na/arma e jeito de a dar.
Mas, então, donde resulta tal incongruência? Tamanho desfasamento entre trabalho e produção de riqueza? Será dos métodos e tipo de trabalho ou da motivação e formação do trabalhador? Do sistema organizacional da empresa? Das leis laborais? Talvez sim ou talvez não ou de tudo um pouco.
Ora, penso, e porque não sou perito na matéria peço me absolvam de alguma asneira que formule, que a razão primeira e mais ponderosa reside valor comercial do produto que resulta do trabalho, ou seja, se uma empresa produz rolhas ou cestos de vime não pode almejar a mesma riqueza e os mesmos lucros saídos do trabalho com igual tempo de laboração, como uma outra empresa que produza objetos em ouro ou automóveis topo de gama.
Pois bem, se olharmos às estatísticas que vão aparecendo um pouco por todo o lado, verificamos que existem países com 40 horas de trabalho semanal e outros com pouco mais de metade; e, curiosamente, não são aqueles os que mais riqueza produzem por cada hora de trabalho; e, deste modo, pouco contribuem para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) ou seja para o enriquecimento, desenvolvimento e bem-estar do país.
Agora, para que conste e segundo estatísticas oficiais, nós somos o quinto país da União Europeia com mais horas de trabalho por semana, em média traduzidas por 35,8 a 36 horas; e, depois, na mesma União Europeia somos o décimo segundo país onde é menor a riqueza produzida por cada hora de trabalho e que se cifra em 21,8 euros.
É fácil concluir que esta realidade tem muito a ver com o tipo de trabalho efetuado e em que setor; por exemplo, se pensarmos nos resultados do trabalho efetuado por uma empresa tecnológica e nos de uma empresa agrícola, facilmente concluímos que os níveis e resultados da produtividade em termos financeiros são muito diferentes; e, sobretudo, para maior baralhação das leis e princípios económicos e de engenharia financeira, o tempo e esforço de laboração destas são superiores e financeiramente menos recompensados do que os daquelas.
Pois bem, numa primeira e simples análise a conclusão parece evidente: num país onde predomina o setor primário de produção e o desenvolvimento tecnológico e técnicas de produção é inferior, a sua economia é mais débil e a riqueza muito menor; pelo contrário, nos países onde predominam meios de produção, onde a alta tecnologia e os métodos e meios produção mais evidentes, a realidade económica é bem diferente e, plenamente, para melhor.
Vejamos, para ilustrar esta realidade, os exemplos e números relativos às horas de trabalho semanais e a respetiva faturação por cada hora de trabalho de alguns países:
Luxemburgo - 29,2 horas e 84,2 Euros/hora; Irlanda - 30,6 horas e 81,2 Euros/hora; Dinamarca - 30 horas e 71,2 Euros/hora; Holanda - 27,6 horas e 56,5 Euros/hora; Alemanha - 26,1 horas e 54,6 Euros/hora; França - 29,3 horas e 54 Euros/hora; Finlândia - 31,4 horas e 53,96 Euros/hora; Áustria - 31 horas e 52 Euros/hora. Reino Unido - 28 horas e 43,5 Euros/hora.
Conclusão: Há países que trabalham menos horas e que, em termos monetários, produzem mais do que outros países com mais ou iguais horas de trabalho; agora, além destes, vejamos, alguns países onde se trabalha semanalmente muito mais e onde a riqueza que se produz é muito inferior à destes países: a Polónia - 39 horas, a Grécia - 38,8 horas, a República de Malta - 37,9 horas, a Letónia - 36 horas, a Estónia - 35,7 horas e a Eslováquia - 33 horas.
Pois é, a meu ver, o busílis da questão entre trabalho e riqueza, talvez esteja mais no valor do produto produzido do que no número de horas necessárias para o produzir; e o marxismo-leninismo que sabe muito bem que assim é ainda não foi capaz de resolver a questão.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
Trabalho e produção

DM
17 junho 2020