twitter

Todos somos 25 de Abril

O 25 de Abril de 1974 é inclusivo e não tem dono: não é de nenhum partido político, sindicato, associação ou grupo ideológico como se tem feito crer através de atos e palavras de muitos políticos; e revisitando a sua trajetória histórica de 47 anos. sempre intenções e ações encontramos de exclusões, apropriações e sedições.

Recuando no tempo, somente com o 25 de Novembro de 1975 se afastou a tentativa de colagem do Movimento das Forças Armadas à esquerda e extrema-esquerda políticas através de manifestações, barricadas, palavras de ordem, murais, saneamentos selvagens, ocupações de empresas, nacionalizações, tentativas golpistas e revolucionárias, ações (assaltos, roubos e assassínios) das brigadas FP25, campanhas de sensibilização doutrinária, controlos operários e ditaduras do proletariado levadas a cabo contra o país que não se revia nessas ideologias e apelidado era de fascista e salazarista; e, claramente, isto acontecia com o apoio militar – Conselho da Revolução – e se traduzia em palavras de ordem de lavagem constantes aos cérebros e eram, por exemplo, soldados sempre, sempre ao lado do povo e.força, força, companheiro vasco, nós seremos a muralha de aço.

Pois bem, este ano os promotores do desfile comemorativo do 25 de Abril manifestaram intenções de impedir a participação de elementos de um partido político de ideologia liberal; mas, mesmo vindo os donos do desfile a recuar na sua decisão, o referido partido preferiu fazer o seu próprio desfile o que revela dissidências e intolerâncias reprováveis de parte a parte.

No seu discurso comemorativo do Dia da Liberdade, no Parlamento, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apelou a que o 25 de Abril viva sempre como gesto libertador e reformador da História e se faça do passado lição de presente e futuro sem alibis nem omissões, mas sem apoucamentos injustificados querendo muito mais e muito melhor. Não há como nunca houve um Portugal pefeito, como não há, nunca houve, um Portugal condenado. Houve, há e haverá sempre um só Portugal, um Portugal que amamos e de que nos orgulhamos, para além dos seus claros e escuros e também porque é nosso, porque nós somos esse Portugal.

Então porque todos somos 25 de Abril rejeitamos ideologias totalitárias, injustiças sociais, desigualdades gritantes, corrupções, exclusões e intolerâncias pessoais e sociais; e, sobretudo, queremos caminhar unidos e solidários, celebrando as glórias que nos honram e aceitando, responsáveis e resilientes, os fracassos que a nossa História comum regista; e porque não queremos um país de filhos e outro de enteados, de oprimidos e de opressores, de senhores disto tudo e de senhores de nada, de corruptos e corruptores, lutemos juntos por mais liberdade, mais igualdade e mais fraternidade

Agora, nunca Celeste Caeiro, trabalhadora num restaurante de Lisboa, sonhou que os cravos vermelhos que carregou nos braços a caminho do Largo do Carmo onde se celebrava a Liberdade, nessa manhã de 25 de Abril e os distribuía aos soldados que com eles enfeitavam os canos das espingardas, trocando-os, assim, pelas balas, seriam o símbolo maior do 25 de Abril; e, assim, o seu gesto que pintou de vermelho todo o Largo e se espalhou como labareda por Portugal inteiro acaba por acompanhar uma revolução onde não houve sangue, mas sim cravos.

Igualmente Celeste Caeiro também nunca sonhou que este sinete de Liberdade iria definhar bem depressa no seu simbolismo e esplendor como definhou; e isto porque as promessas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que o Movimento dos Capitães garantiu ao povo nunca plenamente foram cumpridas e, até, muito malbaratadas têm sido; e a ponto de, nas celebrações deste 25 de Abril de 2021, para além dos cravos vermelhos, em muitas lapelas apareceram cravos brancos e, até, cravos pretos como forma de protesto contra os rumos difusos e democracia e de afirmação de que nada, nem ninguém é dono do 25 de Abril, porque 25 de Abril somos todos nós.

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

DM

5 maio 2021