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Todo o ser humano é chamado à santidade(1I)

Para além da profunda humanidade, Santa Teresa aponta outro sinal de transformação da pessoa no caminho da santidade e que consiste na ampla liberdade interior. Este estado de espírito vai-se solidificando consoante cresce a confiança na presença e no amor de Deus.

Em vez de depender de fontes exteriores de auto-afirmação, tais como, títulos, honrarias, cargos mundanos de comando e outras espécies de possessões, a pessoa que vai amadurecendo na espiritualidade aprende a viver a partir do seu interior, mas sempre de um modo racional e humano.

Certo dia, Santo Agostinho, referindo-se ao Senhor e ao dizer-Lhe: “Tu estavas dentro de mim, e eu estava fora… tu estavas comigo e eu não estava contigo” quis mostrar-nos o desafio que se nos apresenta quando queremos crescer na santidade. É necessário levar-se uma vida interior consciente, honesta e orante. À medida que Deus vai ocupando o centro da nossa própria vida, os ídolos (prazeres mundanos e outras futilidades) da periferia vão perdendo poder e lugar.

Santa Teresa identifica também, e em concreto, algumas ocasiões em que experimentou o crescimento da liberdade de espírito. Quando começou a sua reforma do Carmelo, inicialmente sentiu-se profundamente ferida pelas críticas que lhe faziam. Do mesmo modo, também se sentia afetada pelos louvores. Mais tarde, começou a considerar tudo isto com indiferença.

As suas reações mudaram: se era criticada, considerava que não era senão o que merecia; se era louvada,considerava que nisto era louvado o Senhor e também o aceitava. Deste modo, alcançou a liberdade de não responder emocionalmente e de não se molestar pelos comentários dos outros.

Santa Teresa refere-nos ainda aquele tempo em que, na sua profunda união com Cristo, o pensamento da morte parecia-lhe ser um nobre desejo. A morte seria o aperfeiçoamento da sua peregrinação e o cume da sua união com o Senhor. Porém, foi refletindo sobre isto, e chegou por fim a descobrir um problema neste aparente nobre desejo de morrer e estar com o Senhor.

Teresa deu-se conta de que queria morrer, quando a pergunta verdadeira tinha que ser esta: “O Senhor quer isto?” Ela ensinava com frequência que a finalidade da oração é “a conformidade com a vontade de Deus”.

Ao questionar-se “Deus quer isto?”, a atitude de Santa Teresa mudou. Desejava permanecer neste mundo, servindo os outros, o tempo que Deus quisesse, embora também estivesse pronta para ir para a Casa do Senhor e estar com Ele, mas apenas quando Ele quisesse. Sentia-se livre para estar disponível para o que Deus dispusesse. Ela atingiu, deste modo, a plenitude da liberdade humana.

Esta é mais uma grande lição dos grandes místicos, transmitindo ao comum das pessoas de que a santidade não se atinge só com muita oração, com uma vida de total clausura ou de um constante estado cilicioso.

A santidade está essencialmente no cumprimento dos deveres pessoais, familiares e profissionais, bem como no serviço desinteressado ao próximo, nomeadamente aos pobres, aos doentes, aos marginalizados, aos sem-abrigo e aos abandonados pelas classes sociais bafejadas pela fortuna.


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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27 setembro 2018