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Todo o ser humano é chamado à santidade (1)

Houve tempos em que muita gente pensava que a santidade era um privilégio dos místicos e de outros contemplativos que seguem caminhos diferenciados em relação aos cristãos ditos normais. Assim e como consequência dessa opção, os seus escritos parecem representar uma espiritualidade de elite, reservada, portanto, só a alguns, não se podendo aplicar à maioria.

Felizmente, esta visão de um certo obscurantismo religioso, vem a diluir-se da cultura e da prática cristã. Os Papas dos últimos tempos têm dado um grande contributo para a eliminação dessa visão distorcida acerca do alcance da santidade, ao canonizar pessoas simples, quer quanto à cultura intelectual, quer quanto à profissão modesta que desempenharam ao longo da sua vida.

Aliás, os próprios escritos dos ascetas não se reservam apenas a alguns, mas servem de alento para todos os cristãos. O caminho que neles descrevem é mais normativo do que excecional.

Santa Teresa de Jesus deu um grande impulso neste sentido, indicando alguns sinais na vida de uma pessoa que cresce na santidade. Independentemente de uma pessoa ter tido ou não experiências religiosas extraordinárias (como vozes e visões semelhantes às que teve Santa Teresa de Jesus), estes sinais indicam que o caminho espiritual está assente numa base normal firme.

De facto, tais sinais assentam em três grandes pilares: uma profunda humanidade, uma ampla liberdade e uma grande generosidade. Nós somos um mistério para nós mesmos, mas Deus conhece quem realmente somos.

No entanto, na história da espiritualidade, o mandato bíblico de “negar-se a si mesmo” foi, muitas vezes, erradamente interpretado no sentido de “desprezar-se si próprio”, para reconhecer com certa relutância a própria humanidade e tomá-la em pouca consideração. Esta interpretação deu lugar, frequentemente, a uma humanidade abatida, acompanhada de um rosto pesaroso.

O nosso Papa Francisco tem denunciado estas atitudes dos “ditos” santos, dizendo que essas pessoas apresentam uma “cara de funeral”. Estes sintomas observam-se, muitas vezes, em pessoas que estão sempre “carrancudas e antipáticas”, dando um testemunho de uma “severidade teatral”, que reflete um “pessimismo estéril”. Nada mais errado. O Papa Francisco diz também que esses estados de alma espelham sinais de medo e de insegurança.

Os santos devem ser as pessoas mais alegres do mundo. O mandato evangélico de “se negar a si mesmo” é um desafio à nossa inclinação para o egoísmo e para uma vivência demasiado voltada sobre si próprio, sem perceber profundamente as necessidades dos nossos irmãos. Um “eu” sadio, quando mal orientado, pode facilmente chegar a ser doentio e egocêntrico.

Este “eu” que dobra todas as coisas às suas próprias necessidades e desejos não é um “eu” maduro.

Santa Teresa de Jesus dava muito relevo à humanidade de Jesus que ajuda os místicos a pôr os pés na terra e a respeitar devidamente a sua própria humanidade. Deixar de lado “o Jesus humano” é um enorme erro. Somos humanos e vamos para Deus de uma maneira humana.


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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20 setembro 2018