O esquelético edifício da fábrica da Saboaria e Perfumaria “Confiança”, fundada em 1894 em Braga, uma unidade marcante na manufactura de diversos produtos de excelente qualidade e de renome no mercado nacional e internacional, tem gerado efervescência nos denominados “agentes culturais”, evidências oriundas de comentadores emocionalmente de cabeça quente, mobilização de “tropas” estrategicamente reunidas em “quartéis” para delinear formas de combate, tudo motivado pela pressuposta alienação desta antiga unidade de produção de sabonetes, aprovado pela maioria que gere o município de Braga.
Obviamente, qualquer bracarense não vira a cara à defesa do seu património cultural, humano e social relacionado com a insubstituível história da sua cidade e como parte integrante da sua vida.
Entristece, surpreende, é surreal e hilariante, para abalançar um pouco a questão em apreço, que no passado um vasto lote de edifícios ancestrais, almejados pela comunidade da cidade dos Arcebispos, desaparecesse abruptamente pela escalada do silêncio com a cumplicidade do “comissariado” cor-de-rosa para venda a privados ou simplesmente deitados abaixo para dar lugar a construção imobiliária inestética.
Recordemos o edifício onde funcionou o antigo Tribunal de Braga (no Pópulo) vendido a particulares, as arcadas do edifício demolido situado no início da rua do Chãos, onde laborava o ex-Banco Nacional Ultramarino, da lindíssima zona habitacional, incluindo o seu chafariz, no Largo dos Penedos, já não referindo a alternância de mau gosto do fontanário junto à Arcada da Praça José Veiga, por um modesto e disfuncional “tanque de lavagem de roupa suja”, a construção de uma urbanização nos terrenos do Complexo das Sete Fontes e como consequente a destruição de alguns canais de “penas d’água”, a descaraterização arqueológica existente na avenida da Liberdade a coberto de uma cimenteira para dar lugar a um túnel viário, e outras situações, levadas a cabo irresponsavelmente por quem detinha à época o poder do deita abaixo, lamentavelmente sem defensores culturais, políticos e cívicos.
A oposição do PS à Câmara de Braga devia ir ao confessionário para perceber o “elefante branco” dos atentados e erros perpetrados à memória da história dos edifícios, entretanto desaparecidos, com a assinatura de alguns membros da sua “família” partidária.
Prevalece a ideia de que a Junta de Freguesia de S. Victor corre o risco de perder um “polo cultural” com a venda do edifício da “Confiança”, quando para quem quer ver, a esquelética ex-fábrica dos Sarotos, na rua Bernardo Sequeira, a cair aos bocados, pode ser negociada literalmente para espaços de índole cultural e social que sirvam os legítimos interesses da comunidade residencial daquela autarquia local.
Está garantido, com toda a confiança que merece, que o imóvel da saboaria em questão, propriedade do município desde 2012 por um custo de três milhões de euros aproximadamente, não terá destino comercial, será salvaguardada a sua estrutura exterior, e com a carência com que se debate o ensino superior há a ideia de ser construído no seu interior uma residência universitária, minimizando as dificuldades da população estudantil da Universidade do Minho ou se não provier essa acepção sugestiva, porque não substituir a caduca Pousada de Juventude na rua Santa Margarida por outra com serviços de acolhimento inovadores, qualitativos, confortáveis e que levem os visitantes uma recordação de que “viver em Braga” é mesmo bom, numa região em que se afirma ser e é “cidade autêntica”.
Autor: Albino Gonçalves