Os terroristas, imbuídos de fanatismo e intolerância, aproveitam-se do acolhimento e do ambiente de liberdade e tolerância que a sociedade ocidental lhes prodigalizou, para a minarem no seu cerne e desorganizarem os nossos modos de vida. Por isso, da União Europeia e dos Estados espera-se muito mais que dizer, “não temos medo”.
2. Estamos ante um terrorismo global, mas ainda não é inteiramente global nem a sua absoluta condenação nem o combate que lhe é movido; por vezes dá a impressão que vivemos numa sociedade reactiva, que se detém mediaticamente ante o drama vivido, em vez de se tornar pró-activa, com estratégias à vista de todos para evitar tais eventos trágicos.
“Não ter medo”, como costuma gritar-se após cada atentado – o que, aliás, se entende –, pode ser também um modo irresponsável de reacção; é preciso “ter medo” para perscrutar qual a realidade “nua e crua” que nos rodeia, para tomar consciência dos perigos que nos espreitam, para tomar medidas preventivas que dificultem tais actos criminosos. “Se tivesse havido medo”, barreiras existiam nas “Ramblas” de Barcelona – uma das mais amplas vias pedonais do centro da capital da Catalunha – que poderiam ter impedido aí o hediondo atentado terrorista de 17 de Agosto, em que um marroquino conduziu uma carrinha atropelando mais de cem pessoas (deixando dezasseis mortos). Ora, já se sabia, desde o ataque terrorista em Nice, em 2016 (com 85 mortos), que essa era uma das armas dos terroristas – que “custa pouco e é barata” –, quando um camião irrompeu por entre uma multidão que se preparava para comemorar o 14 de Julho; ou quando um outro camião entrou por um mercado de Natal em Berlim (12 mortos e 48 feridos); ou, em Londres, quando um automóvel galgou o passeio pedonal da ponte de Westminster, matando cinco pessoas, cidade onde ocorreram ainda mais três atentados deste tipo; ou do camião roubado usado contra quem circulava na principal artéria pedonal do centro de Estocolmo (quatro mortos e quinze feridos). Foram pelo menos oito ataques na Europa em pouco mais de um ano.
3. Não se percebe também como não suscitou dúvidas a explosão na casa de Alcanar, em Tarragona, ocorrida na noite antes dos atentados, ocupada irregularmente nos últimos meses por indivíduos de origem magrebina, que armazenava mais de uma centena de garrafas de gás butano! Como não era normal o radicalismo do imã Abdelbaki Es Satty, aliás com antecedentes criminais, e que já viajara aos bairros de Bruxelas (onde ocorreram antes atentados no aeroporto e metropolitano). Como é de arrepiar – conforme escreveu um Investigador, num diário nacional, o artigo “Jogando com o fogo: a Catalunha e os jihadistas marroquinos” – que, na Catalunha, se tenha atribuído um papel activo a autoridades religiosas de Marrocos na elaboração de conteúdos do Islão junto dos muçulmanos na Catalunha, adoptando-se também o ensino escolar do árabe (o governo de Madrid acusa a Catalunha de dificultar a aprendizagem e uso do espanhol), podendo-se, na ambição independentista de momento, cativar votos no grupo de populações árabes-islâmicas (poderá chegar a trezentos mil).
4. Há que acolher com hospitalidade os verdadeiros refugiados ou imigrantes que buscam nova vida na Europa – o destino mais ambicionado por todos –, e não em países árabes ricos. Aos que cá estão ou vêem, para agredir e impor procedimentos que infringem os nossos valores, ou criar sociedades paralelas às nossas onde se violam direitos humanos básicos, não deveriam na Europa ter guarida. São salutares as relações com comunidades muçulmanas, desde que vivam em consonância com os princípios de liberdade, igualdade e tolerância. Não se pode é transigir com ideias terroristas, que devem ser combatidas. Sabe-se que a acção preventiva das forças de segurança na Europa já evitou muitos ataques; sabe-se também que é muito difícil prevê-los todos, sobretudo os perpetrados pelos chamados “lobos solitários”, difíceis de impedir, como pode ter sido o que ocorreu há uma semana no metro de Londres (estação de Parsons Green).
Vale o paradoxo da tolerância do filósofo Karl Popper: “A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância; se ampliarmos a tolerância ilimitada mesmo para aqueles que são intolerantes, e se não estamos preparados para defender uma sociedade tolerante contra o ataque do intolerante, então o tolerante será destruído e a tolerância com ele”. Daí o princípio: “Devemos reivindicar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar o intolerante”.
O autor não segue o denominado “acordo ortográfico”
Autor: Acílio Rocha