Este fim-de-semana tive uma epifania. Há já alguns meses que levo cada vez mais tempo a fazer cada vez menos tarefas. Os sábados, por exemplo, desaparecem num ápice entre as refeições e a arrumação da casa. Tenho andado a amadurecer uma teoria da relatividade: não aquela de Alfred Einstein, que nos explicavam na escola com o facto de envelhecermos mais devagar quando viajamos à velocidade da luz, mas uma outra, segundo a qual a duração do tempo é inversamente proporcional à nossa idade. Trocado em miúdos, quanto mais velhos estamos mais depressa passam os dias, verdade que me parece agora universalmente compreendida e aceite. Um drama, enfim.
Julgo que a única solução para suavizar esta triste realidade e desacelerar o tempo será viajar para o passado. Assim, dê lá por onde der, faça chuva ou faça sol, este domingo vamos dar um pulo de dois mil anos e procurar um pouco do que resta da estrada romana de Braga a Astorga. Segundo os estudiosos, esta que foi uma via militar designada Via XVII, teria a sua origem no Largo Paulo Orósio, no antigo forum, passava por onde é agora o Largo Carlos Amarante e as Ruas do Raio, D. Pedro V e Nova de Santa Cruz, seguindo depois pela “estrada velha”, na margem direita do Rio Este, em direcção à Serra do Carvalho.
Havemos de dar uma espreitadela ao Castelo de Lanhoso, implantado naquele monólito formidável onde podemos encontrar, também, os restos de um antigo castro romanizado. Depois, mais adiante, chegaremos ao famoso carvalho da freguesia de Calvos. Com uma idade estimada de 600 anos, este carvalho-alvarinho (Quercus robur) gigante, de vinte metros de altura e quarenta de diâmetro de copa, é um ancião que mete respeito. Pese embora velho de séculos, já os romanos não andavam por cá quando este carvalho nasceu, como que a provar que a idade é relativa.
O troço seguinte da via, por Vieira do Minho até à fronteira de Trás-os-Montes, há-de ficar para dias com mais sol e melhor oportunidade.
Por agora, demoramo-nos mais um pouco ao pé deste roble. Ele conta-nos histórias de quando a sua espécie dominava as florestas do Minho até à Estremadura, refrescadas pelos ares do Atlântico. Mais logo, faremos o caminho de volta até à Vila da Póvoa de Lanhoso. Ali havemos de encontrar, entre quatro paredes de granito, uma mesa bem compostinha de cabrito assado no forno acompanhado com um vinho que, para conjugar com a nossa recente companhia arbórea, foi envelhecido em barricas de carvalho. Aposto que, com este cenário, rodeados de amigos ou família, o tempo vai passar muito, mas mesmo muito mais devagar.
Autor: Fernanda Lobo Gonçalves