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O tempo é mais para sentir do que para conhecer.
Nunca saberemos cabalmente o que é o tempo. Mas sentimos intensamente o que significa atravessar o tempo.
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Até quando paramos, percebemos que o tempo não deixa de andar.
Somos permanentemente visitados por sucessivos «antes» e «depois». Até na sua filigrana mais fina, o tempo cobre-nos com repetidas incursões pelo «fim» e pelo «princípio».
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As cercaduras emocionais que nos acompanham no tempo trazem-nos vivências que gostaríamos de refocilar e estender. São momentos que sabem a eternidade. É aí que nos apeteceria habitar para sempre.
Mas há igualmente instantes que daríamos tudo para sacudir e apagar. São, contudo, esses (indesejados) «inquilinos» que não cessam de nos torturar.
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O tempo assemelha-se a uma viagem em forma de viragem. A caminho de uma irremediável voragem.
Nele – mesmo quando parece que nada se altera –, tudo se torna diferente.
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O tempo cruza-se connosco em muitas fases e com muitas faces.
A impressão que dá é que, no início, o tempo não anda. Depois, notamos que (afinal) o tempo passa. De seguida, constatamos que o tempo corre. Finalmente, damos conta de que o tempo voa.
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Imerso no tempo, o homem tem dificuldade em estar e em ser. Ele nota que não está onde já esteve nem onde vai estar.
O momento presente não é mais que uma repentina deslocação entre o momento anterior e o momento seguinte. Dificilmente conseguimos estar; estamos sempre a ir. É por isso que o ser humano é uma transcorrência entre o que já foi e o que há-de vir a ser.
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Não espanta que Alexandre Herculano tenha entrevisto o homem como «um animal que disputa».
Em si próprio e no ambiente circundante, ele vive em procura contínua e em insatisfação constante. Não lhe basta o que encontra. Pelo que jamais desiste de encontrar nem de se reencontrar.
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Nesta quadra – de noites distendidas –, era bom que cada serão também fosse nutrido de meditação.
Seroar deveria ser especialmente aproveitado para meditar.
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Aprendamos com o tempo. Ele é sempre pontual. Nunca deixa de nos acenar, sem alguma vez procrastinar.
Não tenhamos pressa. Mas também não voguemos em pausas exasperantes.
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Nesta acelerada viagem, celebramos mais uma viragem, rumo à inevitável voragem.
Um novo ano está a chegar. E a eternidade – essa – também não irá demorar!
João
Autor: António Pinheiro Teixeira