Não passaram muitos anos, mas recuando no tempo, as crianças tinham escola de manhã ou de tarde, tinham tempo para estar com a família e até para brincar com os amigos e os avós.
Eram educados e ao mesmo tempo tinham maior proximidade familiar. Curiosamente, os pais que trabalhavam tinham geralmente horários mais longos de trabalho, mais obrigações e menos direitos. Era assim num passado recente, lembram-se?
Pois bem, tudo mudou. “É verdade que as crianças são sujeitos com direitos e também que os pais, com mais ou menos dificuldade, cumprem com brio as suas obrigações”. De repente este tempo de mudanças, de competição, de superior interesse da criança, tantas vezes referido mesmo na lei, deu início a um mundo novo para as crianças, que nalguns casos vemos, de manhã ainda cedo, a carregar uma mochila às costas, apesar da sua tenra idade, alguns com três ou quatro anos!
A modernidade chegou para eles com muitas regras, com horários prolongados, nalguns casos para além dos turnos de serviço dos pais. Talvez do superior interesse da criança, não fizesse parte levantar tão cedo, quem sabe com menos horas de infantário, creche ou escola! talvez o superior interesse da criança, aconselhasse mais tempo para brincar, para estar com os pais e irmãos, com os avós! Talvez mais tempo para ser realmente criança. Então porque insistimos em ser dos países (dizem os jornais e alguns especialistas da área) onde as crianças têm maior tempo letivo, ocupados com trabalhos? Não é por acaso, que algumas entidades referem as instituições são pressionadas a ter um horário alargado, para que as crianças lá permaneçam até mais tarde! Como motivo sugerem o interesse dos pais, porque trabalham e não podem vir buscar a criança antes das 18h ou 19h ou mesmo mais tarde.
Por isso se fala em ocupação de tempos livres… em banco de horas dos funcionários, enfim tudo no superior interesse da criança. Por estes dias, infelizmente por motivos indesejáveis, as crianças vão estar com a família que é afinal o elo mais forte de proximidade.Parafraseando Eduardo Sá. "..É bom que as crianças brinquem mais do que estudam".
Na verdade não acham, que motivar competição entre crianças de 4, 5 ou 6 anos, ocupar o tempo com música, teatro, Inglês, catequese, natação, teatro, etc… etc, significa apenas e só, esquecer que são crianças e necessitam essencialmente de brincar, antes de os obrigarem a cumprir tarefas de maior responsabilidade? Salvo melhor opinião, parece importante repensar o tempo de permanência das crianças nas instituições… porque elas também têm o direito de ser criança. E se pensarmos bem, quem sabe se não será tempo de organizar o tempo de trabalho e de família, tudo no superior interesse da criança e na proximidade familiar.
Autor: J. Carlos Queiroz
Tempo para ser criança…
DM
19 março 2020