Depois de afirmar que “para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu” (Ecl 3, 1), o autor do livro do Eclesiastes apresenta um conjunto de catorze opostos (vv. 2-8), encabeçados por “tempo para nascer e tempo para morrer” (v. 2). Numa paráfrase a esse texto, atrevo-me a acrescentar mais um: “tempo para trabalhar e tempo para descansar”.
Ao tempo de um descanso mais prolongado, chamamos habitualmente “férias”, palavra que provem do latim feriae, feriarum: “dias consagrados ao repouso (descanso em honra dos deuses), dias feriados, festas, regozijo público” (Dicionário de Latim, Porto Editora, p. 481). São um afastamento temporário de uma atividade habitual; um tempo de descanso, ócio e turismo que permite realizar aquelas atividades agradáveis e descansadas que, por falta de tempo, não podem ser levadas a cabo em época laboral ou escolar.
Depois de um ano de trabalho, para uma boa parte de nós chegou o tempo de fazer férias ou mesmo ir de férias. Com o calor a apertar, a montanha e o mar a seduzir, não falta vontade – haja também oportunidade! – de deixar as habituais ocupações para descansar um pouco, de parar para retemperar forças e repensar a vida. Não sendo um tempo para desperdiçar, tristes férias aquelas que apenas servem para entregar o corpo à moleza e espraiar a preguiça, os vícios e os maus costumes.
As férias são um tempo favorável para uma viagem ao interior de nós mesmos, para serenar o corpo e o espírito, refrescar as forças físicas e mentais, em ordem a reencontrar o sentido da existência; tempo de pôr em ordem a própria vida.
É sobretudo em férias que melhor se refaz o tecido das relações humanas, quantas vezes atropeladas pela pressa e pela tensão de compromissos a satisfazer e de horários a cumprir. Libertos de tantas canseiras, temos mais tempo e disponibilidade interior para conviver com os outros, aceitando-os como são e mostrando-nos como somos.
As férias permitem-nos usufruir da natureza, olhando-a como “a nossa casa comum” (Papa Francisco, Laudato si’, nº 17) e como caminho para Deus. A calma deste tempo permite-nos conviver com ela de forma respeitosa e pacífica e colher dela as lições de serenidade e de paz que tem para nos dar.
Para quem acredita, as férias ajudam a repor Deus nos horizontes da vida e da história humanas, dando-lhe o lugar que lhe compete. Há mais tempo e disponibilidade para a oração e para a vivência sacramental. Não faz sentido que, por estar em férias, o cristão se dispense da oração e da celebração da fé. Deus não vai de férias!
Com tais objetivos pela frente, as férias exigem necessariamente um plano de vida, em que a gestão do tempo encontre espaço para aquilo que é mais importante: a convivência, a leitura, as viagens/caminhadas, a oração, o desporto... Não tenho dúvidas de que, depois de umas férias bem aproveitadas, refazendo-nos interiormente, reencontrando os amigos e Deus e reconciliando-nos com a natureza, nos sentiremos mais aliviados, mais felizes, mais humanos... e mais preparados para recomeçar o trabalho com um novo fôlego, encanto e frescura.
Para concluir, a importância das férias aparece evocada e sintetizada na frase Só avança quem descansa, por sinal título de um livro de Vasco Pinto de Magalhães, cuja leitura recomendo para este tempo de férias.
Destaque
As férias são um tempo favorável para uma viagem ao interior de nós mesmos, para serenar o corpo e o espírito, refrescar as forças físicas e mentais, em ordem a reencontrar o sentido da existência; tempo de pôr em ordem a própria vida.
Autor: P. João Alberto Correia