O povo pronunciou-se e agora alea jacta est, isto é, a sorte está lançada, como diria César se em vez de passar o rio Rubicão tivesse de formar governo após estas eleições legislativas. Mas César passou-o mesmo ciente das dificuldades que ia encontrar depois de o atravessar. Sem comentários de ordem partidária, outros o farão com sabedoria e abundância, o que nos cabe é dizer que vale a pena escutar a história de Portugal através da participação dos seus maiores nas dificuldades que fizeram para o enaltecer. E se eles assim fizeram, esquecendo comodidades ou assentos confortáveis de fortuna certa, parece-me que pedir um entendimento partidário para uma governação de Portugal é um pedido que deveria ser uma exigência. Sempre admirei os homens ou mulheres que se sacrificaram pela pátria. Assim aprendi na história heróica que me ensinaram os professores; memorizava-os sem esforço. Avultavam em meu espanto e admiração, tantas figuras da história de Portugal, espalhados pelas dinastias, e “tantos outros em quem poder não teve a morte” que seria dar aula de grandeza a que me furto por reverência a eles. E já que citamos Camões que não o alcançava na sua grandeza como poeta, reservei-lhe um cantinho especial, afofado de admiração e aconchegado no orgulho de ser português. Ao estudá-lo fiz-me um português mais robusto. Foi ainda Luiz Vaz, em Os Lusíadas, essa “bíblia” da Pátria lusa, quem disse, “esta é a ditosa Pátria muito amada”. Por isso julgo que se trata duma negação que se faz a todos estes ilustres filhos do passado, quando os partidos negam entendimento para a formação de uma governança! E negando-o, estão novamente a negar Portugal. Não compreendo como podem os interesses partidários sobreporem-se ao interesse de se apoiar um governo estável! Não entendo como se pode afrontar esses heróis do passado com atitudes mesquinhas de uma partidarite sem sentido pátrio! Não entendo a miopia dos que dizem alcançar longe, quando reduzem a pátria a uma ideologia! Senhores, a Pátria está primeiro porque nela reside a nação onde vivemos. E esta nação é feita das pessoas que somos. Vejam os resultados eleitorais de ontem e não custa concluir: somos uma sociedade que quer viver sem extremismo ou sem totalitarismos, quer eles venham da utópica extrema-esquerda, quer no revivalismo da extrema-direita. A paz e a harmonia da coexistência entre portugueses é uma matriz que se tornou um atavismo. Esquecê-la é perder identidade. Se daqui a algum tempo nos obrigarem a ir às urnas, por incompatibilidades partidárias de hoje, voltaremos a ter os mesmos resultados, porque a alma que sente, apenas consente aquilo que sente. E no silêncio profundo deste sentir mora a essência de ser português. Hoje é tempo de expetativa para a convergência partidária. E amanhã? Amanhã vamos conhecer os patriotas ou os agiotas da Pátria, isto é, aqueles que lhe querem bem sem interesse ou os que dela querem tirar proveito partidário ou, quiçá próprio. Eles estão na ribalta; nós na plateia, ou para aplaudir, ou para patear.
Autor: Paulo Fafe