Não sou grande adepto de touradas. Contudo, admito que estamos perante uma manifestação cultural que tem séculos de tradição entre nós, para além dos aspetos económicos e de emprego que dela dependem e que, por diversas razões, não se pode por si só erradicar sem um sério debate.
Para uns é uma arte. Já para outros é um ato de violência. A humanidade levou milhares de anos a domesticar um conjunto de animais, onde se incluem cães, gatos, cavalos, galinhas, porcos e diversas espécies de gado bovino, nomeadamente vacas e bois, onde se incluem os touros, os machos não castrados usados nas touradas. A título de exemplo, recordemos que hoje existirão por esse mundo fora, mais de mil milhões de ovelhas, outro tanto de porcos e igual quantidade de cabeças de gado e mais de 25 mil milhões de galinhas.
As touradas, por um lado constituem um espetáculo que mistura homens, cavalos e touros. Há quem adore e quem odeie. Dificilmente, no nosso estádio atual de desenvolvimento social, não se tem uma opinião sobre o assunto.
Há quem critique, sobretudo por constituir uma forma gratuita e primitiva de causar sofrimento a um animal. Não existe qualquer igualdade entre as forças em presença. O homem está sempre em vantagem, ou porque se socorre da tecnologia (bandarilhas e espadas, nomeadamente), ou porque usa animais (cavalos) para adquirir uma superioridade sobre a força bruta representada pelo touro. Não sei muito sobre touradas, mas quando comecei a pesquisar alguma informação para este artigo, rapidamente percebi que não se deve emitir uma opinião simplista, sem se pensar e analisar o assunto nas suas diversas vertentes.
Para quem tanto se preocupa com as touradas que, quer se queira, quer não, são um espetáculo público, em que tudo acontece segundo determinadas regras (determinadas pelo homem é certo), recordemos as palavras de Yuval Noah Harari em “Sapiens – História breve da Humanidade” a propósito do brilhante destino de um vitelo contemporâneo numa exploração industrial de carne:
“Logo depois do nascimento, o vitelo é separado da mãe e trancado numa jaula minúscula, pouco maior do que o seu próprio corpo. Passará ali toda a vida – em média cerca de 4 meses.
Nunca deixa a jaula nem lhe é permitido brincar com outros vitelos ou mesmo andar – para que os músculos não se tornem demasiado fortes. Músculos fracos significa que a carne será macia e suculenta. A primeira vez que o vitelo tem uma hipótese de andar, esticar os músculos e tocar outros vitelos é a caminho do matadouro.”
Claro que tudo isto acontece longe dos olhos, das câmaras e dos telemóveis das pessoas. Logo não existe. A realidade hoje em dia, resume-se ao que é fotografado, filmado e circula nas redes sociais e nas televisões. Poucos são os que leem e que se informam de forma completa sobre os assuntos.
Preocupados com as touradas? Porquê? Porque a maldade humana aí está à vista de todos? Deixemo-nos de hipocrisias. O touro que vai para uma praça de touros é imensamente mais feliz que a esmagadora maioria dos seus pares, cujo destino é aquele que aqui foi descrito.
Autor: Fernando Viana