As forças armadas devem ser as primeiras a exigir o julgamento para que se não dê azo a generalizações que a todos emporcalha e nivela. São dois casos muito negros, são dois casos a manchar uma classe que não deveria ter nada que se lhe apontasse. As forças armadas têm a auréola do 25 de Abril de 1974; é perigoso que ela caia no descrédito e se veja diminuída por culpa própria; elas são um dos pilares fundamentais da nossa democracia representativa. Sem forças armadas ninguém garante que haja liberdade porque, por incrível ou até anómalo que pareça, a liberdade de um povo mantém-se pela existência de forças armadas.
São elas o mais forte elemento dissuasor dos que gostariam de abafar, subverter ou minguar, a democracia participativa. O povo português sabe que pode confiar nas suas forças armadas porque são garante deste privilégio que é ser-se um povo livre. Sim, a liberdade não é uma conquista definitiva. Como jóia preciosa que é, sempre haverá quem a queira roubar. Porque é assim, o povo sente com amargurada tristeza as nódoas negras que recentemente viu cair sobre as suas forças armadas. O povo sabe quanto lhes deve e, por isso, exige que se culpem os prevaricadores com o rigor e a presteza que se requer; está de acordo que a justiça se faça indiferentemente a amuos ou repentes quixotescos de alguns elementos mais melindrosos das forças armadas.
O que se passou em Tancos é tão grave em questões de segurança nacional e quiçá mundial, como igualmente é grave o caso da sobrefaturação das messes na Força Aérea; o primeiro mata a paz, o segundo corrompe a alma. As forças armadas devem ser aquele espelho sempre limpo, onde cada cidadão as veja impolutamente refletidas. Espero que o que aconteceu não tenha tentáculos ou aderências. Mas há outro pilar que, como dente cariado em boca podre, está a abalar a nossa democracia. Falo dos senhores juízes: estamos intranquilos quando vemos um órgão de soberania anunciar greves, abdicando, deste jeito, da sua condição constitucional.
Não se pode ser órgão de soberania e não ser órgão de soberania. Estes dois pilares, o das forças armadas portuguesas e a dos senhores juízes, dão mostras de descrédito de imagem social; a imagem social é um espelho onde muito gostam de se rever. Quem nele se apouca, nele se humilha e muitos apouca. Mas não se pode fingir que nada aconteceu; a realidade dos factos e atos ocorridos, estará sempre presente do conhecimento generalizado. A comunicação social é livre e noticia-os. Repetimos, para bem das forças armadas, e do bom nome dos que merecem lá estar ou estiveram, deseja-se uma erradicação das maçãs podres da corporação.
É que uma sociedade sem exemplos é como uma casa sem espelhos. Como nos podemos arranjar sem nos mirarmos? E não só o aspeto físico. Quanto aos senhores juízes que definam bem o que querem ser: ou órgãos de soberania ou funcionários públicos.
Autor: Paulo Fafe