De repente o país virou “poupadinho”, ao acordar para a despesa que se previa fazer com altar-palco+pala para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), Lisboa 2023, desviando o foco das esconsas ilegalidades e falta de ética política, assim como a crescente despesa pública contraída por este Governo. O que em nada se compara à mais-valia de tudo quanto foi pensado para esse encontro ecuménico de jovens. Sendo algo que não é possível ser medido pelos custos, antes pelos benefícios. O que, mesmo assim, nada impedia que as entidades responsáveis se tivessem debruçado previamente sobre os gastos, como agora fizeram.
Com efeito, trata-se de uma estrutura capaz de albergar cerca de 2000 pessoas a instalar na conhecida lixeira de Beirolas, transformada para o evento. Num solo que exige perícia, técnica e reforço de materiais que lhe deem sustentabilidade e segurança. Espaço que contará com diversas instalações quer de apoio à multidão, às forças de segurança, aos 5000 elementos dos Órgãos de Comunicação Social, etc., etc.
Ora, quantos milhões foram despendidos com causas menos nobres, até hoje, sem qualquer retorno que se veja? Cito a título de exemplo os 10 Estádios de futebol se quisemos ter, por cá, o Euro 2004. Que o diga o Edil de Braga, cujo custo a rondar os 165 milhões (M€) a Câmara continua a pagar. Mas como se tratava da bola, gastou-se à tripa forra. Enquanto aqui é toda uma economia que gira; as diversas empresas e empregos que se movimentam e uma obra d’arte que nos deixa.
Mormente, andam a torrar-se largas dezenas de M€ em comemorações político-ideológicas, mas, depois, tudo vai à festa. Isto, para não falar dos rapaces governantes que abalam a governação e depenam as Finanças do país. Este sim, dinheiro de que pouco ou nenhum fruto se vê, a não ser o enriquecimento dos próprios. Já a realização da JMJ, que irá trazer a Portugal mais de um milhão de estrangeiros com os quais se prevê um encaixe financeiro a rondar os 300M€, há quem ache o investimento feito para futuro, imagine-se, faraónico.
Contudo, andaram todos a dormir. Dado que se tivesse havido, como fez a Espanha, um atempado apelo a mecenas, a outros expedientes e à revisão em baixa do orçamento pela empresa escolhida, ter-se-ia adiantado o serviço. Desta feita, não teríamos assistido a lamentáveis cenas tais como a de católicos a dizerem que o preço “magoava” e a dos infiéis a trazerem à liça os Evangelhos, preferindo uma coisa miserabilista para tão transcendente acontecimento presidido pelo Papa Francisco, Chefe de Estado do Vaticano.
Esquivo, a fazer lembrar o dito de J. César a M. Brutos: “até tu Brutos?”. Sim, até o Presidente da República, qual catavento, se uniu à falange da nova poupança. Depois de ter sido ele o ufano anunciador da JMJ para Portugal. Ele que tanto lê, não teve curiosidade em ler o caderno de encargos? É a 180 dias do acontecimento, que hesita?
Sim, houve incompetência. E ela revelou-se através do camarada coordenador do projeto, nomeado pelo Estado, J. Sá Fernandes, que havia aparecido de calças na mão a queixar-se do valor da fatura. É que, segundo ele, preferia um singelo altar em cima de contentores, por receio de não salvar os seus 210.000€ brutos.
A humanidade nunca careceu tanto de símbolos de espiritualidade – a contraporem-se ao materialismo crescente – como hoje. Em que como disse o franciscano, frei Fernando Ventura: – “o cristianismo é hoje a religião mais perseguida no mundo”. Embora lamente, o facto dele se ter vindo aliar ao “sururu” de poupadinhos, classificando a estrutura de obscena e exorbitante. Nada contribuindo para a dignidade que o acontecimento da JMJ23 merece e se perpetue de forma inolvidável.
Francamente, achei o conjunto do desenho interessante para aquela nova zona, a qual não iria ser tão cedo reabilitada caso não houvesse a JMJ23. Mas confesso ter sido surpreendido com esta onda de “poupadinhos”, a borrifarem-se para a projeção do país no mundo.
Autor: Narciso Mendes
“SURURU” DE POUPADINHOS
DM
6 fevereiro 2023