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Sporting, evolução na continuidade

  1. A substituição, no Sporting, de Bruno de Carvalho por Frederico Varandas).O difícil e interminável processo de destituição do anterior presidente; e a sua substituição, em eleições livres, pelo igualmente jovem e super-confiante médico militar (e desportivo) F. Varandas, deu tempo de eu meditar e recuar aos tempos da minha adolescência; em que, na alínea de Direito, num antigo liceu portuense, era o melhor da turma (desculpem aqui imitar o Bruno na prosápia…), a Alemão e a Latim. Em Latim estudámos à volta de 20, das centenas de fábulas de Fedro (escritor greco-latino do séc. I d. C.) e do grego Esopo. No Outono do ano seguinte a esse, lembro-me bem de ter feito a prova de Aptidão à Fac. de Direito de Lisboa, usando um pesado e completo dicionário, de finais do séc. XIX (!), pesado mas perfeito, com que estudava no Porto. Porém, ao baixar a média de 16 para 13, logo percebi bem as dificuldades que o “etnocentrismo” das classes altas lisboetas, me iriam de futuro criar, só por vir do Norte e sem padrinhos.

  2. A velha fábula do “Mons parturiens”…). Hoje é mais conhecida pelo aforismo de “a montanha pariu um rato”. Dizia, com cínico humor, o texto latino: “A montanha estava em processo de parto! Produzia gemidos monstruosos/ e havia nas nações a maior das expectativas/ Mas ela pariu um rato! Bem, isto é dedicado a ti que/ sempre prometes grandes coisas e nada apresentas”. Em latim, é: “Mons parturiens gemitus immanes ciens/ eratque in terris maxima expectatio. At ille, murem peperit. Hoc scriptum est tibi/ qui, magna cum minaris, extricas nihil”.

  3. Se eu fosse sócio, escolheria Ricciardi). A crise financeira e desportiva do Sporting é hoje tão grande que, ao clube, nesta fase difícil da vida (em que a sua confusão interna chegou, depois de “Alcochete”, até ao estrangeiro) ao clube dizia, não convém ser dirigido por um qualquer jovem desconhecido. Toda a gente sabe que com Varandas ou Benedito a presidente, quem manda são alguns “superiores desconhecidos” que estão por trás, na sombra. O próprio Madeira Rodrigues, disse, antes de desistir a favor de Ricciardi, que os seus patrocinadores eram árabes. Toda a gente se queixara da arrogância, jactância, pouca educação, conflitualidade “multidireccional” de Bruno de Carvalho. Então, parte dos seus adeptos devem ter pensado: bem, nesse caso vamos criar “um novo Bruno”, mas com todas essas arestas bem limadas. E lançaram Varandas… Por amor de Deus, quem é que em 2017 conhecia o dr. Varandas? Que notoriedade e estatuto tinha ele? Que é que um jovem assim, tem de tão especial que se possa candidatar a presidente dum clube com a história do SCP? Já a José Maria Ricciardi não faltavam maturidade, presença, estatuto, notoriedade, ligações sociais e financeiras, um sportinguismo digamos, de raiz e de família. Lembre-se que, em 2015, Ricciardi negou (com êxito) quaisquer ligações aos desmandos do seu primo Ricardo Salgado no GES, dentro do “universo BES”. E foi, bem convincente.

  4. Quem diria que 72% de anti-brunistas iriam dar 42 a Varandas e 36 a Benedito…). E apenas 15% a Ricciardi! Bem, a 1ª explicação é que, nos clubes há interesses obscuros organizados que capturam os sócios. A 2ª é que, infelizmente, o sócio desportivo não é muito bom em lógica (e matemática) e gosta de se iludir. A 3ª é que, a “nação brunista” (28%...) votou unida, quer em Varandas quer em Benedito, até há bem pouco, “brunistas” convictos (“birds of one feather, fly toguether”). Tanto trabalho, afinal para nada. O velho grande Sporting de sempre, anda desaparecido (note-se o mau ar de alguns presentes na posse do tímido e choroso Varandas…). Sintomático (e patético) foi, num dos debates, Benedito virar-se para Ricciardi e dizer: “ó Zé Maria, tu isto, tu aquilo”… A “valiazevedização” do SCP continua à espreita.

  5. Muita humildade e sangue-frio têm os jogadores…).De ataques de malfeitores à totalidade dos futebolistas e ao treinador (como aconteceu em Alcochete) só haverá exemplos no México, Colômbia, África profunda… Mas mesmo assim, raríssimos. Essa cena, só por si, devia dar direito de rescisão (com indemnização) a todas as vítimas. De louvar, foi o amor ao clube de muitos, especialmente Bruno Fernandes e Bas Dost (este, com mais de 60 golos em 2 épocas!).

  6. Alguns feitos do deposto presidente).Todos os jogadores repetidamente insultados por SMS; e suspensos após derrota com o Atlético de Madrid (por 1-2), que aliás viria a ser o campeão. Indiferença (ou ligações) quanto ao assalto a Alcochete (“o crime faz parte do dia a dia, é chato”). Não se solidarizar com Patrício, desde que a claque o atacou com foguetes, em Alvalade. Controlo, pelas claques, das assembleias. Insultos e agressões a jornalistas, a sócios e a investidores eminentes, como o angolano A. Sobrinho. Discurso megalómano e egocêntrico (chegou a proibir os sócios de ler outros jornais que não o do Sporting!). Uma atitude completamente autista perante as adversidades. Contratar um treinador croata e mandà-lo embora sem justificação. Tentar impedir J. Jesus de falar. Valentes têm sido, entre outros, Octávio Machado, Marta Soares, V. Espadinha. E Cintra lavou agora parte do seu mau passado no clube.


Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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2 outubro 2018