Para quem se não lembra, recordo que em 04 de abril houve uma explosão numa fábrica de pirotecnia existente em Avões, tendo perdido a vida diversas pessoas. Na altura falou-se em seis mortos e dois desaparecidos.
2. Devo afirmar, antes de mais, não ser contra as festas. Bem pelo contrário. Quem me conhece sabe como recomendo se não deixe de assinalar festivamente momentos significativos na vida das pessoas, das famílias e de outras comunidades. Há datas que devem ser assinaladas. São uma forma de estreitar os laços que unem as pessoas.
Há, porém, festas e festas. Há vários modos de festejar momentos significativos.
Acho muito bem, por exemplo, que a comunidade estudantil assinale o fim – para uns de um ano letivo e para outros, do curso – mas discordo frontalmente dos exageros praticados nesses festejos. Um cortejo de queima das fitas (em Braga, do enterro da gata) não deve ser um emborcar desmesurado de cerveja nem uma manifestação, em alguns casos, de atos de pouca vergonha. Nem aceito que as festas académicas sejam pretexto para impedir o comum dos cidadãos do merecido descanso.
Discordo de viagens de fim de curso exageradamente dispendiosas e onde o legítimo uso da liberdade é substituído por práticas de libertinagem.
É uma questão de gosto pessoal, mas uma das coisas que nas festas me desagrada é o foguetório. Dir-me-ão que as fábricas de pirotecnia dão emprego a muita gente. Mas se para aquelas pessoas se conseguisse outro trabalho, sobretudo com menos riscos…
3. Há excessos que se praticam em muitas festas. Inclusive em festas ditas religiosas, cuja religiosidade, às vezes, consiste no uso (abusivo?) do nome de um santo.
O que se esbanja em algumas festas poderia ter um melhor destino. Saber gerir bem o dinheiro também é uma virtude e um testemunho que deve ser dado. Pode haver saldo a que se dê um destino solidário
Não obstante notícias vindas a público da recuperação da economia do país, a verdade é continuar a haver pessoas carecidas do necessário. É haver idosos para quem não existem lares devido às pequenas reformas que recebem. O Banco Alimentar continua a reconhecer ser necessário proceder a recolhas de alimentos para gente carenciada. É gritante a falta de serviços de cuidados continuados.
Sem deixar de fazer festa, que se corte no supérfluo para ajudar quem mais precisa.
4. A solidariedade – que para nós, cristãos, tem o nome de caridade e não de caridadezinha – não deve ficar numa palavra bonita, mas deve manifestar-se em atos.
Uma coisa é pregar solidariedade e outra, praticar gestos solidários. Uma coisa é dizer aos outros que deem e outra, abrir os cordões à própria bolsa.
Numa sociedade onde há pessoas carecidas do essencial continua a esbanjar-se em roupas que raras vezes se usam, em banquetes que se fazem, em comida que vai para o lixo, em viagens escusadas, em obras faraónicas, em festarolas que não sabem ser festas.
A paróquia de Gondar deu para os que sofrem com a tragédia de Avões dinheiro que não gastou em foguetório. E a Páscoa não deixou de ser celebrada dignamente. Se este exemplo se multiplicasse…
Que a solidariedade apregoada corresponda a solidariedade praticada.
Autor: Silva Araújo