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Sobressaltos e expectativas do presente

Com o verão a terminar e a aproximação do outono, a azáfama do quotidiano está de regresso. O fim das férias e o início do ano escolar trazem de volta movimento, animação e a lufa-lufa habitual.

Ano escolar que principia ameaçado pelo braço-de-ferro entre os sindicatos dos professores e a tutela, sendo o cerne da desavença a contagem do tempo de serviço para efeitos de descongelamento das carreiras.

Ano escolar que se inicia com algumas escolas em obras por falta de planeamento adequado e outras sobrelotadas em resultado do fim apressado de muitos contratos de associação com estabelecimentos de ensino privado e corporativo.

Ano escolar que começa com muitas famílias “com o credo na boca” tendo em conta as dificuldades económicas para conseguirem alojar os filhos que foram deslocados para frequentar universidades e institutos politécnicos em diferentes cidades. Os preços dos quartos, sobretudo nas grandes cidades, são proibitivos e as residências estatais são muito poucas para acudir a tantas solicitações.

Se o aqui exposto para a área da Educação é motivo de muitas inquietações, o que dizer de outros assuntos importantes que marcarão por certo os próximos tempos?

Na realidade, há muitas outras matérias que merecem a nossa especial atenção, não só por serem relevantes para o dia-a-dia de cada um de nós, mas também por, de forma indelével, condicionarem o futuro de todos.

Há poucos dias foi assinalado o 39.º aniversário do Serviço Nacional de Saúde (SNS), justamente considerado a maior conquista do regime democrático português.

Neste momento, é público que se encontra numa verdadeira encruzilhada resultante da falta de financiamento para novos investimentos, para repor equipamentos em fim de vida e, sobretudo, para suportar encargos com a medicação e os meios complementares de diagnóstico, cada vez mais onerosos.

Sempre que lhe são apontados problemas, constrangimentos e limitações que põem em causa a sua sustentabilidade, logo despontam vozes dizendo que a solução está em o retirar maioritariamente da esfera pública e o entregar a grandes grupos privados que, obviamente, o consideram um apetecível negócio.

No entanto, acredito que a sua privatização não pode ser a solução. Tal como referiu o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, nas comemorações da efeméride, ocorridas no passado dia 15 em Coimbra, “no dia em que o SNS não for sustentável, esse será o dia em que a democracia não será sustentável”.

Expressos sumariamente os sobressaltos e as expectativas sobre duas áreas cruciais para o nosso futuro coletivo, não faltam outras razões para manter um certo desassossego.

A aproximação de um novo ciclo eleitoral – com a realização de eleições europeias, regionais e legislativas – é mais um motivo de alguma inquietação.

Se as eleições na região autónoma da Madeira não acarretam grandes preocupações, o mesmo não se poderá dizer dos escrutínios para o Parlamento Europeu e para a Assembleia da República.

Desde logo as primeiras, pelas alterações que podem trazer à composição do Parlamento Europeu com reforço significativo das forças populistas, xenófobas e anti-imigração que um pouco por todo o velho continente vão conquistando mais adeptos, pondo em risco a própria essência da União Europeia.

No que às eleições legislativas diz respeito, pela panóplia de incertezas que forçosamente irá gerar, mas principalmente pelas tentações eleitoralistas de quem detém o poder, com nefastas consequências que todos teremos de pagar.

A todos estes alvoroços causadores de perturbantes expectativas acrescem os violentos fenómenos da natureza que, fruto do aquecimento global, um pouco por todo o mundo, espalham desespero, destruição e morte.

Aquecimento global, considerado um problema urgente e com graves consequências para a Humanidade que, apesar dos inúmeros alertas da comunidade científica, das organizações ambientais e de diversas autoridades civis e religiosas, não tem merecido a atenção necessária de muitos dos mais poderosos do mundo.

Todavia, é em tempo de sobressaltos e de expectativas suscetíveis de confluírem em momentos críticos e perigosos que mais importa estar vigilante. A História está cheia de ensinamentos. Urge manter a esperança e não repetir erros de outras eras.


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

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18 setembro 2018