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Simplificar e anunciar: o essencial

Foi há cerca de dez anos que ouvi falar pela primeira vez da Yoido Full Gospel Church, a igreja pentecostal com maior taxa de crescimento das últimas décadas. Interessavam-me realidades eclesiais que tivessem a evangelização e o primeiro anúncio como prioridades e perceber quais as estratégias que usavam para crescer de modo sustentado. Esta semana morreu o seu fundador, David Yonggi Cho, com 85 anos de idade. Colocando de lado algumas sombras do seu passado recente, importa sublinhar o seu percurso e a sua visão. David Cho nasceu no seio de uma família budista e converteu-se ao cristianismo com 17 anos de idade. Vítima de tuberculose, com a vida por um fio, atribuiu a sua recuperação a Deus. Foi o ponto de viragem para dedicar a sua vida à evangelização. O contexto era agreste. A Coreia tinha acabado de sair da violenta guerra civil que resultou na divisão da península entre Norte e o Sul. Optou por residir em Seul, nova capital da Coreia do Sul. É então que, em 1958, funda a Yoido Full Gospel Church. Inicialmente era apenas uma tenda, cosida com pedaços de outras tendas americanas, e um pequeno grupo. Em poucos anos, de meia dúzia de membros passaram a ser uma das maiores igrejas evangélicas, com perto 750.000 fiéis, 500 igrejas na Coreia e centenas de missionários por todo o mundo. Chegou a fazer algumas incursões nos anos 90 pela Rússia, tentando levar até lá o Evangelho. Qual a razão deste rápido crescimento? Creio que, na essência, se deve a três razões. 1. Pequenos grupos. A Yoido Church teve, no início, um crescimento orgânico considerável fruto do entusiasmo dos primeiros pastores e do ímpeto evangelizador de David Cho. Atingiu, contudo, em poucos anos um plateau, sem qualquer crescimento assinalável. Foi nesse momento que David Cho desenhou o modelo das “células domésticas”, as quais não se devem confundir com as pequenas igrejas domésticas do Novo Testamento. As células domésticas são pequenos organismos que funcionam ao estilo das células do corpo humano. O seu objectivo é a multiplicação. Constituem-se pequenos grupos de oração e reflexão que, uma vez atingindo um número superior a quinze elementos, se dividem em duas novas células. O ingresso no grupo é feito por convite pessoal, oferecendo-se assim a possibilidade de um crescimento personalizado e de se fazer a experiência da fraternidade. Depois, o grupo multiplica-se e a experiência repete-se ciclicamente. Este modelo já foi, por exemplo, adoptado pelo padre Perini, da arquidiocese de Milão, que criou o Organismo internacional de serviço das células paroquiais de evangelização com bons resultados. 2. Líderes. O segundo elemento diferenciador é a aposta na formação de líderes. Aspecto relevante tendo em conta que, no catolicismo, levaria a repensar o exercício dos ministérios e de formas de liderança partilhada. Cabe aos líderes acompanhar e garantir o crescimento das células, acompanhados e aconselhados, naturalmente, pelo pastor. Para se ter uma ideia da grandeza de valor, a Yoido Church tinha até há pouco tempo o ritmo de um novo líder por cada dez a dezasseis fiéis e só em 1988 formou 10.000 novos líderes. 3. Primeiro anúncio. O último factor de sucesso foi a noção clara do que se pretendia. Neste caso era a evangelização, sobretudo de primeiro anúncio. Não a manutenção, a multiplicidade de áreas de intervenção, mas a evangelização. Para a Yoido, a espiritualidade é tomada a sério, tal como a necessidade de capacitar pessoas para serem enviadas em missão. Sem pudor, reconhecem a absoluta necessidade da oração e do trabalho do Espírito Santo para o crescimento pessoal e da comunidade. David Cho deixa-nos, com 85 anos, um legado importante. É preciso simplificar a mensagem e os processos, ir ao essencial, anunciar aquilo em que se acredita. Em síntese, é este o seu testamento para o crescimento da Igreja: 1. Anunciar Cristo; 2. Oração; 3. Experiência do Espírito Santo; 4. Vitalidade dos pequenos grupos; 5. Envio em missão.
Autor: Pe. Tiago Freitas
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21 setembro 2021