Domingo é tempo de votar, de decidir, de escolher quem governe durante quatro anos; e uma certeza nos deve acompanhar: a abstenção não é solução e só o voto conta e vale.
Temos assistido, nos últimos tempos, à recusa, ao virar de costas, a indiferença ao direito/dever de votar e que ultrapassa em muito os cinquenta por cento (50%), e esta atitude não colhe, não beneficia a democracia e muito castiga os políticos que a servem e defendem.
Penso que esta indiferença, este descrédito tem a ver com a forma como temos sido governados com os maus tratos e desvios que a democracia tem sofrido; e a esta conclusão chegamos facilmente, basta pensarmos, por exemplo, na impossibilidade de pôr cobro à corrupção, descarada e voraz, que, há muito, por ai grassa.
Pois bem, se refletirmos sobre a forma como pensamos o ato de votar, a meu ver, há três atitudes que o demovem: a abstenção, o voto nulo e o voto branco, e, por detrás destas opções negacionistas, sempre existe uma razão de fundo que lhes assiste.
Vejamos: o eleitor que sempre se abstém, pura e simplesmente, é indiferente à vida democrática e tanto lhe faz o candidato x, y e z, porque todos são iguais pela negativa; e, por outro lado, quem vota nulo ou branco participa na vida democrática mas com uma visão muito própria.
Assim, ao votar nulo o eleitor fá-lo como forma de protesto e negação dos candidatos que se lhe apresentam, porque os seus princípios e valores não lhe servem e desconfia da sua atuação futura; mas já quem vota branco quer participar, fazer-se ouvir, estar ativo na vida democrática com outras visões, outros projetos e outros candidatos.
Então, se pretende votar branco o seu voto conta, tem uma leitura, é um voto crítico, inquiridor, afrontoso, contrariamente a quem pretende votar nulo que é dizer não à participação, a ser radical, e anarquista; por isso, não sendo a abstenção a solução, mas a demissão, o voto nulo é anarquismo e negação da forma organizada da sociedade, somente, o voto branco é tido como desejo de participação, mas em novos moldes, diferentes princípios e valores.
Agora, deixando de parte estas três opções, vamos à que fundamentalmente interessa, no momento presente, a todos nós e ao país e que é votar para escolhermos o primeiro-ministro; e para o fazermos de forma ativa, significativa e útil é necessário pensarmos no candidato certo e que melhor garanta a governação que o país necessita e todos desejamos.
Vejamos, então, algumas das caraterísticas e qualidades imprescindíveis a um bom líder e, consequentemente, a um bom primeiro-ministro; fundamentalmente ele deve ser simples, fiel nas palavras e austero nos atos e atitudes públicos, como deve resguardar a sua vida pessoal e a sua privacidade e igualmente não ceder a luxos ou exibicionismos nos seus hábitos de vida.
Ainda deve prestar-se a servir a comunidade e não dela se servir, seja em proveito próprio, seja alheio, não deixar que o poder lhe suba à cabeça nem ceda à ideologia em prejuízo do bem comum, colhendo privilégios, benefícios e mordomias das suas ações públicas, ser exemplo de moderação, cooperação e atuação segundo uma correta escala de valores e princípios, e, muito importante, ser sempre coerente, firme e justo nas medidas e decisões que tome em beneficio de todos; em suma, revelando-se e agindo sempre como um verdadeiro humanista e estadista.
Ora, face a hesitações e dúvidas no momento da escolha, uma análise fria, correta e inteligente ao perfil e passado dos candidatos (quem são, o que fizeram já pelo pais e pelo povo, qual o seu caráter, princípios e valores), é uma ajuda preciosa, e, assim, poderemos fazer uma escolha mais certa e segura para ajudarmos a construir um futuro melhor, mais próspero e feliz para todos.
Todavia, se mesmo assim não encontrar o candidato capaz e seguro não deixe de votar, mesmo que seja branco, que é uma forma inteligente de estar presente e que incomoda e faz pensar os políticos, pois uma coisa é certa: contados os votos, embora a abstenção ultrapasse a percentagem dos votos em urna, o candidato vencedor vai sempre governar, nem que seja com uma geringonça.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
Sim ao voto, não à abstenção

DM
26 janeiro 2022