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Silêncio, atenção e oração

Se conseguirmos aproveitar o tempo de férias para gozar de mais momentos de silêncio e fixação da atenção no realmente importante – a nossa relação com Deus – descobriremos outra qualidade de vida em nós. E poderemos servir melhor os outros.

Um luminoso artigo de Isabella Adinolfi: "La atención, condición necessaria" no Suplemento de "Vida Nueva" de 1 a 7 de Julho, realça como, para Simone Weil, «rezar não é outra coisa que orientar para Deus toda a atenção de que a alma é capaz». Em relação a esta atenção, aquela que se presta aos estudos escolares não passa de uma preparação e uma educação «para a atenção mais elevada e mais intensa que a prática de rezar requer». (p. 5)

Para a luminosa pensadora que descobriu a beleza da oração recitando o Pai Nosso, em grego, enquanto introduzia o amigo e dador de trabalho na sua granja agrícola, Gustave Tibon, nos meandros da língua helénica, a «atenção é a substância da oração, pelo que, rezar de forma automática, sem prestar atenção às palavras pronunciadas mentalmente ou em voz alta, significa não rezar, ou pelo menos, não rezar verdadeiramente».

Surge então a pergunta: que é a atenção e como se desenvolve? Como se consegue prestar atenção? Como se educa para a atenção e para a concentração? A atenção não resulta de um esforço físico de franzir o sobrolho e conter a respiração, contraindo os músculos. Também não é uma qualidade inata. Pressupõe um trabalho e exige um esforço, talvez maior que qualquer outro, mas trata-se de um esforço negativo.

O esforço de libertar a mente das preocupações, pensamentos e volições pessoais, esvaziando-se de si mesmo. «A atenção é a espera e, tal como a espera, pressupõe que se deixou de lado qualquer outra ocupação e qualquer outro fim, dirigindo-a por completo para o que está a suceder». Para prestar atenção, é necessário, quer o trabalho, quer o esforço com os quais a vontade e o eu se subtraem a si mesmos para se tornarem disponíveis e capazes de acolher e de se deixar plenificar pelo Outro.

A atenção é o separar-se de si mesmo e voltar a si mesmo, como quando se inspira e expira. Com uma ressalva: se para conhecer a verdade é preciso prestar atenção, para estar atentos, é necessário desejar a verdade. «Só um desejo bem orientado nos torna capazes de prestar atenção nos estudos. Mas só um autêntico amor pela verdade e por Deus nos torna capazes  de os acolher na reflexão e na oração».

Ou seja, para Simone Weil, a oração implica uma disposição interior preventiva, uma preparação para o contacto com Deus. «Rezar é rasgar o próprio desejo e o próprio pensamento do cárcere do eu para o orientar para Deus. E o êxito da oração assim concebida é o de parecer-se com Deus, tornarmo-nos perfeitos como Ele é perfeito». Na oração feita com total desprendimento e plena atenção, é o Deus amor do Evangelho que se torna presente. O silêncio não é tanto a ausência de sons, mas objecto de uma sensação positiva, mais positiva que a do próprio som. «Os ruídos, se os houver, só chegam a mim depois de terem atravessado esse silêncio. E sinto Cristo mais realmente presente em mim, de uma forma mais tocante, mais nítida e mais cheia de amor do que na primeira vez em que experimentei profundamente essa presença».

Lucinda M. Vardey, uma empresária de sucesso que deixou tudo e constituiu uma comunidade leiga de mulheres contemplativas, em Toronto, sendo também uma notável teóloga, afirma algo, na esteira de Dorothy Day, que nos interpela: «As mulheres, estão muito sós na Igreja, mesmo quando estão casadas e têm filhos, porque não têm uma comunidade que lhes possa oferecer compreensão e direcção». Acrescenta: «A oração representa para mim a consciência de que Deus deve estar em cada coisa. Rezo de forma disciplinada, em silêncio, três a quatro horas por dia. Ofereço o meu trabalho para maior glória de Deus, rezo enquanto escrevo ou antes de pagar facturas; rezo sobretudo empurrada pela gratidão e para pedir conselho e orientação. Vivo uma vida contemplativa. Só saio para ir à comunidade ou à missa».

Se conseguirmos fazer uma descoberta deste género, que bem aproveitadas serão as férias e como a vida nos sorrirá de maneira muito diferente!! Até Setembro, querendo Deus.

 

Autor: Carlos Nuno Vaz
DM

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29 julho 2017