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Serenamente: o poder dos cidadãos

1. Penso ter sido Abrahan Lincoln (1809-1865) quem um dia definiu a democracia como o governo do povo, pelo povo, para o povo.

Na prática, estou persuadido de que não andarei muito longe da verdade se afirmar que a democracia se converteu no governo dos partidos, pelos partidos e para os partidos. São eles (melhor: os seus líderes) quem manda. São eles (melhor: os seus líderes) quem decide. Com os votos do povo, é certo, mas não sei se procurando sempre o bem do povo. Não sei se, colocando acima do bem do povo – do bem comum – os interesses partidários, dos profissionais da política e dos seus amigos.

2. O poder do povo está a ser exercido, praticamente, só em períodos eleitorais. Em períodos em que se cria tal ambiente que não sei se o mesmo povo terá a calma e a informação bastantes para poder refletir e decidir.

Tem havido campanhas eleitorais em que se tem pretendido, demagogicamente, levar o povo a querer o que os políticos querem que queira. A dizer sim aos projetos que lhe são, habilidosamente, apresentados.

O bem comum exige se reveja como são feitas as campanhas eleitorais. Devem, realmente, ter como grande objetivo o esclarecimento do povo. Que o candidato se apresente dizendo, claramente, quem é e o que pensa dos vários problemas da comunidade que se propõe dirigir. Que ideologia professa. Que princípios e valores defende. Que soluções apresenta para os vários problemas e com que meios conta para as concretizar.

Longe de mim querer passar atestados de menoridade mas estou persuadido de que é necessário ajudar o povo a tomar consciência do seu poder e a usá-lo tendo em vista o bem comum.

3. Modernamente, em vez de povo, usa-se o vocábulo cidadão. E é bom que os cidadãos – os homens da cidade (e também da aldeia) – se convençam de que esta também é sua e não apenas de meia dúzia de pessoas. E todos os cidadãos se devem empenhar no desenvolvimento harmonioso da sua cidade (e aldeia), de modo que todos, nela, possam viver cada vez melhor.

É mais que necessário despertar nos cidadãos a consciência do poder que têm e, logicamente, do dever de o usarem e de o usarem bem.

Penso que é de facilitar a candidatura de listas de cidadãos independentes para qualquer um dos órgãos do poder. Desde que a candidatura seja suportada por um número mínimo de apoiantes devidamente identificados.

Penso ser necessário que os cidadãos exerçam o seu poder não apenas em maré de eleições mas sempre. Que andem atentos ao que se passa. Que digam, sem medo – ai as represálias, que coarctam a liberdade! Ai o medo dos novos bufos! – o que pensam. Que aplaudam o que é de aplaudir e censurem o que entenderem censurável. Que denunciem, sempre que for caso disso, com verdade, as injustiças, as arbitrariedades, a prepotência de que são vítimas ou de que têm conhecimento. Que os mesmos cidadãos se organizem.

4. Necessário é também que os Meios de Comunicação Social atuem como verdadeiros instrumentos de diálogo, abrindo-se cada vez mais à participação do cidadão comum. Que a provoquem e estimulem. Que o ouçam com frequência. Que lhe mostrem como é do seu interesse, com respeito pelas pessoas, manifestar os seus pontos de vista e exercer o direito de discordar ou, como um dia afirmou Mário Soares, o direito à indignação. Que sejam a voz do povo e não a de quem quer o povo submisso.

A verdadeira democracia exige uma Comunicação Social muito atenta, cada vez mais independente e mais livre. Que diga o que deve ser dito quando e como deve ser dito. Que não esteja ela mesma subordinada a outros interesses que não sejam o de servir o bem comum.

Uma Comunicação Social convertida em voz do dono…


Autor: Silva Araújo
DM

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2 setembro 2021