3. Pouco faltará para que o nosso Presidente seja tratado como «ex-comentador»! Chegaremos, alguma vez, ao absurdo de descrever os mortos como «ex-vivos»?
4. Sem nos apercebermos, identificam-nos mais pelo que fomos do que pelo que somos. Daí que, à medida que os anos correm, não falte quem tenha o seu nome precedido de vários «ex». É uma forma de dar relevo o que se foi. Mas, ao mesmo tempo, não será um modo de obscurecer o que se é?
5. Ao contrário do que pensamos, vivemos muito amarrados ao passado. É como se, a páginas tantas do «livro» da vida, ninguém olhasse pelas janelas do presente nem cuidasse de abrir as portas do futuro.
6. Num tempo em que nos declaramos comprometidos com o que há-de vir, espanta que, afinal, nos mostremos tão enquistados no que já aconteceu. Não raramente, o que se deixou acaba por ter um impacto superior ao que se vai encontrando.
7. Até as relações mais estáveis estão a ser asfixiadas por uma crescente instabilidade. Apesar de não haver muitas referências a «ex-amigos», abundam expressões que verbalizam a efemeridade de algumas amizades.
8. Quem já não se lastimou por causa dos «amigos da onça» ou «de Peniche»? E que pensar da «remoção» de amigos no «facebook»? Na era da velocidade, como é vertiginosa a passagem de amigo para «ex-amigo»!
9. Com «ex-aluno» é diferente. Aliás, nem deveríamos usar «ex» antes de «aluno». As aulas podem ter terminado, mas a aprendizagem nunca há-de cessar. Ser aluno – notou Xavier Zubiri – «pertence ao que não passa».
10. O que jamais ouviremos é falar de «ex-pais», «ex-mães», «ex-filhos», «ex-irmãos». Não obstante os sobressaltos que possa haver, estes são laços eternos, a valer. Nem a morte apaga aquilo que na vida se apega. Pai, mãe, filhos e irmãos nunca são «ex». Estão sempre «in». Estão sempre dentro. Sempre no mais fundo de nós!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
Seremos apenas «ex»?
DM
10 outubro 2017