Na era industrial, o pai sai para trabalhar fora de casa e, por vezes, longe e a mãe segura a família; e, quantas vezes, a ausência do pai é prolongada, pois a organização laboral das empresas exige saídas e contactos por tempo indeterminado.
Com as crises económicas, o fenómeno migratório acontece; e, então, o pai é obrigado a abandonar a família e a partir para outros países, em condições socioeconómicas e laborais precárias e incertas; e estas contrariedades impedem o seu regresso definitivo por muitos anos e, até, as visitas anuais à família e à terra natal nem sempre são possíveis.
Hoje, o papel do pai ganhou novas formas e dimensões; e esta reviravolta na organização familiar tem, sobretudo, a ver com a libertação da mulher face à igualdade de oportunidades e às transformações que acontecem no mundo do trabalho, onde a presença mais constante e ativa da mulher é exigida.
E, porque tanto se fala e reivindica a igualdade de géneros, a mulher está definitivamente mais dedicada ao trabalho fora de casa, até para colaborar nas despesas familiares; e é por isso que as tarefas de casa, após o trabalho diário, são divididas e a dois; assim, o pai deixa de se instalar no sofá a ver televisão ou a ler o jornal, enquanto a mãe cozinha, passa a ferro e atende os filhos, para colaborar, sem restrições e complexos nas lides de casa.
Todavia, há famílias onde a mãe sai para o trabalho diário muito antes do pai e com as crianças ainda a dormir; e o pai tem de as levantar, arranjar e levar à creche, ao infantário ou à escola, só depois seguindo para o trabalho.
Por outro lado, famílias há onde a mãe chega a casa no fim do trabalho já muito tarde e após o pai; então, é este que recolhe os filhos, lhes dá o lanche e o banho, os apoia nos TPC (trabalhos para casa) e vai adiantando o jantar, enquanto a mãe não chega. E se pensarmos nas famílias onde o pai está desempregado, o seu papel em casa ainda mais abrangente se tornou: ele lava roupa, passa a ferro, limpa o pó, arranja os quartos, vai às compras, cozinha, etc.etc.etc.
Pois bem, para além desta mudança radical na organização e funcionamento da vida familiar, temos de contar ainda com a precariedade e instabilidade no mercado de trabalho, a redução dos níveis de bem-estar devido à descida dos rendimentos do casal, à falta de benefícios e apoios sociais à família e o fenómeno da emigração jovem; ora, toda esta problemática altera a qualidade das relações afetivas entre os membros da família, transferindo, muitas vezes, para o pai a ternura, a afabilidade, o acolhimento, a alegria, a tolerância e a comunicabilidade, caraterísticas vincadamente maternas, com os inevitáveis transtornos que esta inversão de papéis acarreta.
Ademais, não será igualmente que, fruto destas transformações familiares, tão profundas e inevitáveis, a natalidade diminui e o dever parental sofre um considerável retrocesso, conduzindo o país, mais tarde ou mais cedo, ao deserto demográfico? Compete, pois, aos governos e instituições sociais de apoio à infância e à família tomar medidas compatíveis e urgentes para saneamento da preocupante situação de que a instituição familiar está a ser vítima indefesa.
Então até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado