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Sentido crítico e meios de comunicação social

Alguém comentava, a respeito dos conteúdos dos jornais e de outras fontes de informação dos nossos dias, que o que aí se escrevia, se dizia ou se mostrava estava sempre tintado com um tom de desassossego, ou melhor dito, como se aquela informação fosse “aquecida” ou “cozinhada” por uma espécie de necessidade sensacionalista de captar a atenção de quem é seu leitor ou espectador.

Dizia uma mãe a um seu filho adolescente muito inquieto com uma notícia que acabava de ler: “Ao que os jornais deitam cá para fora, é necessário dar sempre um desconto”. E explicava-lhe que uma notícia insípida, anémica ou que não tivesse interesse para o leitor era uma má notícia, porque não chamava a atenção das pessoas e teria o destino do caixote do lixo e do esquecimento rápido, como, aliás, o resto do jornal se fosse todo do mesmo género. E para terminar o seu juízo, acrescentou aquilo que é costume observar-se sobre a definição de notícia: “Não é notícia que um cão morda um homem, mas que um homem morda um cão”.

Terá foros de acerto o que esta boa mãe queria incutir ao seu filho, manifestando-lhe que não podia deixar se raciocinar ao ler um jornal ou ao ser espectador, por exemplo, dum noticiário da televisão

O que faz chegar um facto à opinião pública que os meios comunicação social apresentam tem a sua história, o seu percurso e também, certamente, o juízo opinativo de quem o dá a conhecer. E para descortinar de facto e com desejos de objectividade a “verdade” que aí se plasma, é necessário exercitar o que habitualmente se chama sentido crítico.

Com tudo isto não quer desmerecer-se o papel e o trabalho dos chamados “media”. Contamos com a probidade e com o desejo de acertar dos seus profissionais, sabendo de antemão que quem se dedica a estas tarefas deve ser muito cuidadoso no que diz e na forma de o dizer. As suas palavras não ficam restritas a um pequeno grupo de amigos, mas abrem-se em leque a toda a gente que a elas tem acesso.

Nesta ordem de ideias, quem consulta os “media”, sabe que tem, em muitos casos, de conhecer a forma de pensar de quem neles trabalha. Dizia um amigo meu: “Eu não espero dum sindicalista acirrado que diga bem da entidade patronal...”

Ainda que a observação possa ser exagerada, lembra-nos que não podemos aceitar “de mão beijada” qualquer informação.

Numa sociedade pluralista democrática, a livre expressão confronta-nos com muitos quadrantes da opinião e cabe a nós, com a nossa razão, fazer o discernimento do sentido e da objectividade do que nos é transmitido.

Se não fosse por outros recomendáveis motivos, a “livre expressão”, que há pouco referimos, “obriga-nos” a usar da nossa natureza racional, no dia a dia, para nos inteirarmos da realidade humana e social que nos cerca. E isso é um mérito que devemos agradecer e não é normal numa sociedade ditatorial, onde vem a público apenas aquilo que convém a quem manda.

Tem assim um duplo benefício viver numa sociedade democrática. Por um lado, as fontes informativas são variadas, não uniformes, e de expressão livre; por outro, obriga-nos a pensar sobre o que lemos ou ouvimos nos meios de comunicação social e a não nos contentarmos em ser meros elementos passivos.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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14 janeiro 2018