Chessman, porque sem amparo familiar e sem pão, vida difícil, 15 anos de idade (1937) etc., acompanhou-se de maus amigos e, por carros roubados e outros roubos diversos de ocasião – sempre a pensar na fome da mãe e dos irmãos – permanecia mais tempo preso, que em liberdade.
Não se conhecem ainda hoje as provas – contra si – de predador sexual, de roubos grandes, de bandido da lanterna vermelha e que no tribunal de Los Angeles o condenaram à pena de morte. Chessman cumpriu – só por adiamentos à pena – mais 12 anos de prisão, tempo que lhe permitiu escrever vários livros, que tenho, ligados a Tribunais e Direito dos EUA, reconhecendo-se-lhe um elevado grau de inteligência – pois até foi advogado de si mesmo - e onde sempre negou ser o bandido e o ladrão de que era acusado. “Mas que actuavam em seu nome e que conhecia os autores desses crimes” que lhe imputavam. “Que não os identificava por ter sido ameaçado de que se o fizesse, lhe matariam a família”. A verdade é que a pena de morte, os adiamentos e os já 12 anos de prisão à espera da morte, fizeram com que o mundo de então, não acreditasse em quem o julgou e centenas de países pediram alteração à pena, bem como o próprio Papa Pio XII interferiu também.
Este caso que bem vivi, que o mundo viveu, a morte aplicada a um “bandido e ladrão” da Califórnia, levou-me a reflectir nas mortes que se organizam e nos saques que se fazem no mundo, e porque não nos saques do meu país? O mundo que Chessman deixou em 1960, é bem pior do que o mundo dos Chessman’s actuais: raptos, abusos de toda a ordem, violências de todas as cores, crimes de sangue e roubos de tal forma violentos … – que têm sido causa de misérias familiares, de frustrações incuráveis, de doenças stressantes de foro psicológico, de real loucura!
“Nós por cá”, temos tido todo o género de roubos, em qualquer lugar e em qualquer tempo! Não por Chessman’s de rua com fome ou por desportistas do saque. Temos há mais de 40 anos, gente com inteligência, doutorados, vestidos segundo Paris ou Londres, que sacam, que manobram, que engordam economicamente, que são políticos e presidentes de qualquer instituição e que para todos eles – em caso de azar – são contratados os melhores advogados a provar as suas inocências e o seu amor ao povo!
Sabemos do comportamento económico e social de Sócrates, de Oliveira e Costa, do maior malabarista do BES, da derrocada de toda a banca nacional, da destruição da Portugal Telecom e, para normalizar outra anormalidade de Portugal, até a EDP, liderada por António Mexia, habita nela a corrupção, que desgraça um país, uma economia débil como a nossa, onde a fome, a pobreza e a dívida que essa gente provocou, não dá sossego a um povo que gosta da paz, do trabalho, da família e que tolerância tem testemunhado!
Sempre haverá homens vazios no mundo! Organizam-se para os ataques, escolhem os mais lestos para a sub-reptícia acção, vivem encapuçados debaixo de telhas ou fora delas, não conhecem e não têm amigos. Sorriem, são delicados, simpáticos e jamais se deixam confundir com quaisquer Chessman’s de rua.
São todos doutores e, se não forem, são-no na mesma. Fazem a lei nos Parlamentos à sua (deles) conveniência, esquecem as leis da justiça social – o bem comum – transgridem toda a legalidade democrática, são candidatos a qualquer cargo com ou sem crimes provados, são agricultores do medo, da perseguição laboral dos seus subordinados, porque, como escrevia há dias Bagão Félix, é a ambição “descarnada de um mundo do poder e do dinheiro sem cor, sem pátria, sem limites éticos, sem exigências deontológicas, socialmente censurável, sem respeitarem elementos essenciais da vida em sociedade, como os mais elementares direitos humanos”.
Homens vazios do mundo. Sem Tribunais que os julguem e sem leis existentes para os emparedar. Os Chessman’s actuais vangloriam-se do seu poder, da pulhice feita e que o tempo a anulará, porque o povo esquece-a, tolera-a e os Tribunais e as leis continuam na permanente quarentena, que o país – em democracia, dizem eles – terá de tragar
(O autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico).
Autor: Artur Soares