Esta semana celebrou-se, a 29 de maio, o Dia Mundial da Saúde Digestiva, uma data assinalada anualmente com o intuito de sublinhar uma particular patologia do foro digestivo e reforçar a consciencialização sobre ela na sociedade.
O tema escolhido deste ano foi o diagnóstico precoce de cancro gastrointestinal. Um assunto atual e em constante renovação no seio da Gastrenterologia, mas sobretudo uma matéria que entra cada vez mais no seio das nossas famílias ou em casa dos nossos amigos.
A boa notícia do aumento da esperança média de vida traz consigo presentes indesejados e o aumento da prevalência de doença oncológica é um deles. Porém, também temos conhecimento de que aquilo a que estamos expostos e a que nos expomos tem forte influência no aparecimento de cancro. Das sete doenças oncológicas mais fatais, quatro são do foro digestivo, e no ano de 2018, em Portugal, o cancro digestivo foi diretamente responsável por mais de dez mil mortes.
O que proponho é o seguinte: concentremo-nos no que depende de nós. E isso significa dar um passo atrás no tema do “diagnóstico precoce” e focarmo-nos na eliminação dos fatores de risco modificáveis e na adesão às medidas de rastreio. Estudos demonstram que o risco oncológico pode ser reduzido para um terço nas pessoas que nunca fumaram, sem excesso de peso, que mantêm mais de três horas de atividade física por semana e que têm uma alimentação prudente e equilibrada.
Em relação ao cancro colorrectal, o mais prevalente dos tumores malignos digestivos, teve no ano de 2018, mais de dez mil novos diagnósticos em Portugal. A obesidade e o consumo excessivo de álcool ou carne vermelha e processada são responsáveis pelo aumento da sua incidência. Por outro lado, uma dieta rica em fruta e vegetais e atividade física regular são dois dos principais fatores com papel protetor no aparecimento de cancro colorrectal. A presença de história familiar de cancro colorrectal ou de pólipo avançado do cólon deve alertar para a possibilidade de existir alguma predisposição genética e deve levar à consulta do médico de família, de modo a perceber se há indicação de iniciar o rastreio mais precocemente.
É importante reforçar a necessidade de adesão da população aos programas de rastreio de cancro colorrectal, de forma geral, homens e mulheres acima dos 50 anos, sem fatores de risco pessoais ou familiares. Tal como o conceito de rastreio indica, trata-se de uma forma custo-eficaz de identificar lesões precocemente de forma a poder oferecer um tratamento menos agressivo e mais eficaz. Esta é a forma que foi encontrada para combater um dos mais importantes fatores de risco: a idade.
O cancro do estômago ocupa o segundo lugar na lista de tumores digestivos mais prevalentes. Em Portugal tem uma incidência especialmente alta, em particular na nossa região. Os principais fatores de risco estão seriamente relacionados com a dieta. Sal e alimentos processados ou fumados, têm uma associação muito forte com o aumento do risco de cancro gástrico. Tabaco e obesidade também contribuem negativamente.
Apesar da maior parte dos casos serem esporádicos, cerca de 10% têm contexto familiar. Vários síndromes estão associados ao aparecimento da doença, mas o mais importante é salientar a necessidade de avaliação por endoscopia em pessoas com familiares diretos afetados. Uma dieta rica em fruta, vegetais e fibra surge como principal fator potencialmente protetor.
Os tumores do pâncreas e fígado surgem em seguida na lista. O consumo de álcool e tabaco são os principais fatores de risco, bem como infeções crónicas pelos vírus das hepatites B e C, que implicam vigilância apertada. A obesidade e a diabetes são também fortes contribuidores para o aumento da sua incidência.
Por fim, ajudado pelas palavras da patologista mais influente do mundo, Fátima Carneiro, que diz que “não há lugar para destruir aquilo que existe”, peço que eliminemos aquilo que está ao nosso alcance que leva esta doença a existir.
Autor: Pedro Bernardes Antunes