Missa da Ceia do Senhor (Quinta-Feira Santa), Celebração da Paixão do Senhor (Sexta-Feira Santa) e Vigília Pascal (Sábado Santo). Graças a Deus, tudo decorreu da melhor maneira, com o apreço e a satisfação dos fiéis, que compreendiam a ausência do seu pároco e receberam quem o substituiu com muita simpatia e agradecimento.
Lembrei-me com saudade da minha vida de pároco durante doze anos e das respectivas cerimónias, que tanto trabalho e canseira custavam e, ao mesmo tempo, da satisfação que sentia ao recordar e viver com os meus paroquianos momentos fundamentais da vida do Senhor.
O meu colega desfez-se em gratidão e generosidade. Falámos depois da minha ida a duas das suas paróquias. Em ambas acompanhei e presidi à Via-sacra, com a presença de muitos fiéis. As crianças da catequese foram encarregadas de ler os textos próprios das diversas estações, o que transmitiu a esta romagem de contemplação das dores de Cristo na sua Paixão um encanto muito salutar. Chamou-me a atenção o colega para um facto: “Claro que agora já não se vêem tantas crianças como há uns anos. E cada vez se vêem menos...”.
Fiquei um bocado intrigado com esta observação, que me deixou triste e, num primeiro momento, me fez pensar naqueles pais que, nos nossos dias, não inscrevem os seus filhos na catequese. Conversara pouco antes com um catequista, que me dizia que uma boa parte dos seus alunos, para poder participar na missa dominical a eles destinada, necessitava de pedir autorização pontual aos seus pais, como se pretendesse ir a casa de um amigo festejar os seus anos. E a razão era simples: os pais não praticavam regularmente. E havia outras razões: a separação destroçara a vida familiar e nos fins-de-semana em que eram entregues ao pai (habitualmente), não conseguiam participar nem na missa nem na catequese, etc.
Outro motivo ainda mais forte para a diminuição considerável das crianças nas cerimónias a que presidi. Na altura, não me pus esse problema, que era por demais evidente. Foi o colega que me alertou para a sua existência. A natalidade baixou no nosso país, como em tantos outros, dum modo assustador. Somos a nação europeia que, depois da Eslováquia, apresenta o índice mais baixo de nascimentos. De facto, compreende-se que o Governo feche escolas e até diminua o número de alunos por turma. Cada vez há menos gente a estudar nos primeiros anos, porque cada vez há menos crianças a vir ao mundo. Ao que parece, com uma ténue melhoria nos últimos dois anos.
Alguns dados recolhidos: Em 1961, o índice de fertilidade em Portugal, contada entre mil mulheres em idade apropriada para dar à luz, era de 95,7. Descera para 84,6 em 1970; Em 2015, o emagrecimento desses números é extremamente chamativo: 36,0.
Mas há outros elementos significativos. Em 1971, o número de crianças até aos 14 anos, no nosso país, somava 2.464.666; em 2015, 1.475.537, o que revela uma diminuição de quase 1.000.000 de novos compatriotas. Ao invés, o número de pessoas com mais de 70 anos aumentou, entre as mesmas datas, mais de 330.000. Neste último caso, não podemos deixar de dar graças a Deus pelo aumento da longevidade e também da melhoria significativa do tratamento da terceira idade.
Contra números não há argumentos. A natalidade é um problema muito sério em Portugal. A realidade dum casal ter filhos – se os resolve gerar – em número tão escasso é um facto anti-natural, que não esconde graves e sérios problemas que se relacionam com o casamento, a maneira de um casal se entender, os divórcios que originam tantas destruições de lares, os empregos que exigem a esterilidade voluntária ou premeditada das suas funcionárias, etc., etc., etc. Enfim, um panorama profundamente anti-humanista. Deus permita que possamos enxergar melhores dias no futuro.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva