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É habitual associarmos os santos à mansidão. Há, porém, quem tenha alcançado a santidade não só pelo caminho da brandura, mas também pela via da bravura.
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Nem sempre os santos estiveram longe das bofetadas e nem sempre as bofetadas estiveram longe dos santos. Houve santos que levaram bofetadas. Mas o mais sintomático é que houve igualmente santos que deram bofetadas.
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Santa Isabel da Hungria, apesar de ser rainha, foi severamente penitenciada.O seu director espiritual, Conrado de Magburgo, disciplinava-a com bofetadas.E, como se isto não bastasse, arranjou duas mulheres para a agredir e caluniar.
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O Santo Cura d’Ars, quando era seminarista, levou duas bofetadas de um colega que lhe dava explicações. Como João Maria Vianney revelava dificuldades na aprendizagem, o «explicador» perdeu a paciência. É claro que depressa se arrependeu da agressão. Mais tarde, viria a chegar a bispo e foi sempre respeitador para com o antigo colega.
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Não foi, contudo, a única vez que o santo foi agredido. Já sacerdote, alguém lhe deu uma bofetada. Impávido e sereno, ainda conseguiu reagir com tintas de humor: «Meu amigo, a outra face está com inveja!»
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A Beata Rafaela Ibarra foi atingida à bofetada por uma reclusa que tinha ido visitar.Eis a sua resposta: «Não me fizeste mal, minha filha! A partir de agora, vou gostar ainda mais de ti».
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Aliás, nem Jesus ficou a salvo das bofetadas. Também Ele foi esbofeteado: não por Verónica (como, por desatinado lapso, foi dito recentemente na TV), mas por um guarda (cf. Jo 18, 22).
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O mais intrigante, porém, é ver como — em relação às bofetadas — houve santos que as deram. Foi o caso de São Pio X, que, torturado por uma dor de dentes, esbofeteou a irmã que lhe recomendava paciência.
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Também consta que São Nicolau, em pleno Concílio de Niceia (325), deu umas bofetadas em Ario, por este negar a plena divindade de Cristo. No século XIII, São Peregrino agrediu São Filipe Benizia soco e à bofetada. Este, no entanto, perdoou-lhe e acolheu-o na Ordem dos Servos de Maria, que tinha fundado.
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É sobejamente conhecido o conselho de São João Crisóstomo. Se alguém ouvir uma blasfémia, não hesite em esbofetear quem a profere. «Batendo-lhe, santificas a tua mão». Mas é melhor não seguir tal conselho. Tanto mais que, como notava o mesmo santo, «a violência não se vence com a violência, mas com a mansidão»!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira