Uma claque fabulosa e incansável, há que dizê-lo e enaltecê-lo, marcou o ritmo nas bancadas. Transpirava-se um suor quente que ensopava as camisolas, exsudava-se amor a um símbolo, pedia-se sorte à Senhora do Sameiro ao mesmo tempo que o demónio encarnava em cada um dos adeptos, fazendo-os usar a linguagem típica do demo. Um convívio entre o cristão e o pagão, onde cada toque num jogador bracarense por parte do adversário era visto como uma perigosa placagem que obrigava a soltar todo um jardim zoológico em direção do jogador agressor e onde cada defesa de Xot era vista como um milagre da Santa, que lá do alto, toma conta da cidade de Braga.
Um barulho ensurdecedor, uma respiração acelerada, um apoio incondicional. Vence por nós, vence por nós, cantavam os adeptos. Um pavilhão lotado, o Braga a querer fazer história. Pede-se uma paragem técnica, aproveita-se para respirar fundo, só aqui, neste momento de desconto, se consegue respirar fundo. O Braga perde por um a zero mas acredita-se que vamos dar a volta.
Simulação descarada de Cary, Nuno Dias insurge-se contra a equipa de arbitragem, queria falta, acha que era falta, jura que era falta. Não era, Nuno Dias é expulso. O coração foge-nos do peito para a boca. Faltam quatro minutos e continuamos a perder por um. Pede-se que o Braga suba mas o Sporting fecha bem. Roem-se as unhas, dói o estômago.
A três minutos do fim e já a jogar sem guarda-redes, o segundo golo do Sporting. Diogo a dar uma facada nos corações arsenalistas. Mas a raça está lá e espera-se o milagre. Mas o milagre não veio. A dois minutos do fim, o guarda-redes do Sporting faz um golo de baliza a baliza. O Braga não desiste e o capitão André Machado marca o golo da raiva bracarense. A claque bracarense não se cala, os adeptos sportinguistas já festejam o título.
Soa a buzina e com ela o final do jogo. O Sporting é campeão. Foi justo. Chora-se em campo, chora-se na bancada e entre lágrimas, o orgulho bracarense explode nos corações e extravasa para a forma apoteótica como aplaudem os seus heróis, os homens que de pouco fazem muito.
André Coelho chora, é ele o símbolo da dor maior. O Braga é vice-campeão e disputará a UEFA Futsal Cup. Eu disse que não houve milagre. Mas, a verdade, é que houve mesmo milagre. Porque é um milagre que com um esforço financeiro tão incomensuravelmente diminuto, quando comparado ao agora campeão nacional, esta equipa tenha chegado até aqui e tenha dado tanta luta.
Uma modalidade que apenas sobreviveu fruto da parceria com a AAUM, convém não esquecer. Os adeptos estiveram sempre lá, os dirigentes aparecem agora, atraídos pelos flashes das objetivas das máquinas fotográficas que correm atrás dos nossos heróis. Para a história ficam os rapazes de Paulo Tavares. O suor deles, o suor das bancadas, a comunhão perfeita dos que sentem o clube.
Autor: Ana Pereira