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Sacode-nos, Senhor

Jesus deu-nos o exemplo. Exemplo de quê?

O exemplo de um amor sem limites e de uma doação total. De um amor que sabe esquecer e perdoar e de uma doação que vai até à entrega de si mesmo. De um amor que é viver para e não viver de. De um amor que se faz serviço e dom.

O exemplo do exercício de uma autoridade e do exercício de um poder que se traduziram num serviço humilde aos outros e numa constante dedicação ao semelhante.

O exemplo de não se ficar em meias-tintas nem em posições dúbias quando é preciso tomar uma posição e fazer uma opção.

O exemplo de tratar os outros de harmonia com a sua dignidade de seres humanos e de filhos de Deus, não olhando à sua condição social, ao seu grau de cultura, ao volume da sua conta bancária, às influências que são capazes de mover, às prendas que podem ofertar, aos negócios que podem proporcionar.

O exemplo de saber distinguir entre os homens e os erros, amando apaixonadamente os homens e lutando para que os erros desapareçam da face da terra.

O exemplo de quem acredita na boa fé dos outros, na sua sinceridade, no seu desejo de mudança.

O exemplo de quem dá aos Pedros que falharam a oportunidade de se reabilitarem e demonstrarem a sua fidelidade.

O exemplo de quem tem a coragem de se colocar – mas de se colocar mesmo, demonstrando-o com factos – do lado dos fracos, dos marginalizados, dos pobres, dos oprimidos.

O exemplo de quem se não deixa levar pela adulação ou pela lisonja. De quem serve sem se servir.

De tudo isto e de muito mais Jesus foi exemplo.

2. O exemplo de Jesus tem de nos fazer sacudir por dentro. Tem de nos levar a confrontarmos a realidade do que somos com o que deveríamos ser, assumindo, corajosamente, a iniciativa de retificarmos o que de errado ou de menos correto há em nossas vidas.

Também nós, os Cristãos de hoje, podemos dizer aos que nos rodeiam que demos e damos o exemplo?

Que imagem de Igreja dão o nosso egoísmo comodista, a nossa vaidade, a nossa cobardia, o nosso apego aos bens materiais, o nosso culto da personalidade, a nossa falta de coragem e de fé, o nosso desrespeito pelos outros, a nossa insensibilidade perante a dor alheia, a nossa falta de verdade e de justiça, a nossa troca do serviço a Deus pelos «fretes» aos homens, o nosso jogo de intrigas, o nosso ativismo espalhafatoso mas oco, as nossas divisões e rivalidades?

O Cristão é chamado a ser o homem do testemunho, mas há pessoas que desconhecem a Cristo ou dele têm uma ideia errada porque o nosso testemunho não é verdadeiro ou não é convincente.

3. Sacode-nos, Senhor. Revolve-nos cá por dentro.

Diz aos teus padres que sejam Padres a tempo inteiro, para todos e em todas as circunstâncias, colocando sempre em primeiro lugar o específico da sua missão.

Diz aos teus bispos que sejam sempre Bispos, esclarecidos e esclarecedores mestres da Fé.

Diz aos teus leigos que é preciso assumirem, sem complexos, o seu estatuto na tua Igreja. Que troquem a situação passiva e cómoda de cristãos de bancada ou de devoçõezinhas, às vezes demasiado lestos em criticarem a Igreja pelo que em sua opinião deveria fazer e não faz, mas esquecidos de que também eles são Igreja, de que também eles devem assumir na Igreja as suas responsabilidades e agir como Cristãos de corpo inteiro.

Saibamos nós imitar-te, Senhor, sendo exemplo para os outros. Que também através de nós o mundo creia.

Nesta Quinta-Feira Santa, perdoa-me, Senhor. Perdoa-nos, Senhor.

 

Autor: Silva Araújo
DM

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13 abril 2017