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Sabe quem é o médico anestesista?

Embora um ilustre desconhecido para a maioria das pessoas, o médico anestesista representa hoje em dia o avanço que a moderna Medicina experimentou nas últimas décadas.

Não seria possível toda a vasta panóplia de técnicas, exames, cirurgias, sem que, em grande parte delas – as mais complicadas – o desenvolvimento da Anestesiologia tivesse conduzido ao estado da arte que vivemos hoje, em que é possível a realização de intervenções, antes arriscadas, com total conforto e segurança.

Embora a primeira demonstração pública bem-sucedida do emprego da anestesia em intervenções cirúrgicas tivesse acontecido em 1846, em Boston, por um dentista de nome William Morton, apenas no século XX a especialidade ganhou corpo de conhecimento próprio e um avanço notável em matéria de técnicas, ventilação, fármacos, suporte de vida, etc.

No nosso país, começou a ganhar forma como especialidade autónoma nos anos 50 e, atualmente, a formação especializada tem a duração de 5 anos, cabendo ao Colégio de Anestesiologia da Ordem dos Médicos fazer cumprir a sua boa prática.

Mas o que faz no dia-a-dia um médico anestesista? Ao contrário da ideia generalizada, não se limita a colocar doentes “a dormir” no bloco operatório. A visão atual diz respeito a toda a designada medicina perioperatória: a atividade estende-se desde a consulta pré-anestésica, onde são observados os doentes a submeter a anestesias, até à vigilância pós-operatória, que pode ser no período imediato em unidades de recobro ou até alguns dias depois quando é necessário tratar a dor destes doentes já no internamento.

No bloco operatório, o médico realiza as mais diversas técnicas anestésicas, das várias formas de anestesia geral até à anestesia regional, adequadas quer ao doente quer ao ato cirúrgico ou outro a que se submete, o que faz de cada situação um caso único a que o médico anestesista tem de dar resposta.

A atividade diária estende-se pelas mais diversas áreas de um hospital e não apenas ao bloco operatório, sendo atualmente impensável que não exista intervenção do anestesista em procedimentos como, por exemplo, exames de gastroenterologia, radiologia, cardiologia e pneumologia.

A par disto, e porque a capacidade de intervir no doente crítico é parte fundamental da sua formação, o anestesista é responsável também pelas situações mais complicadas com risco de vida, através do apoio à emergência médica ou aos cuidados intensivos, onde muitos profissionais, aliás, exercem de forma exclusiva.

Desde há alguns anos uma área também importante para a especialidade é o tratamento da dor crónica, estando reconhecida como um conjunto de doenças com muitas variáveis. O anestesista é o elemento nuclear da equipa multidisciplinar a que obriga o tratamento destas patologias altamente prevalentes e em alguns casos debilitantes.

Para além destas competências clínicas, o médico anestesista pode também dedicar-se a outras mais transversais à vida de um hospital. Na área de gestão em saúde, formação, ensino universitário e pós-graduado, comissões hospitalares, etc, é comum encontrarmos médicos desta especialidade.

É fácil de perceber tratar-se de um contributo com grande pertinência: pela diversidade de áreas onde intervém, pelo contacto próximo em praticamente todos os locais de um hospital, o anestesista dispõe de uma visão de conjunto na prestação global de cuidados de saúde hospitalares que o colocam num ponto privilegiado para perceber e integrar todos esses cuidados.

Apesar de o contacto entre o doente e o anestesista ser, na maioria das vezes, muito breve, pode haver a certeza que na equipa que dele cuida existe um profissional cuja preparação é exaustiva e exigente, e com foco primordial na segurança, e que o ajudará a obter o resultado esperado: um tratamento eficaz, humano e tranquilo.

Esse resultado pode depender da sua atuação em momentos chave de toda a cadeia de prestação de cuidados, o que faz desta especialidade uma conquista fundamental para uma Medicina avançada como é, felizmente, a do nosso país.


Autor: Marco Carneiro
DM

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19 outubro 2018