Para quem só agora acordou e dedica alguma atenção a esta novidade de uma parceria Paris SG/SC Braga, é porque anda distraído. Camilo Castelo Branco numa das suas famosas novelas do Minho já catalogava Braga como uma segunda Paris, comparando, inclusive, as pulgas das duas cidades, como nos conta Rui Ferreira no seu delicioso livro “Braga - trilhos bragueses”.
Assim sendo, e mesmo sem perceber ainda muito bem os contornos de uma putativa ligação entre os clubes mais representativos das duas cidades, é natural que fiquemos com a “pulga” (que já nos uniu) atrás da orelha. Sabemos de antemão que quando um rico se oferece para interagir mais proximamente com um remediado, é (quase) sempre para que o rico fique mais rico - se é que no caso, tal é possível!...
Sem questionar as boas intenções do sr. Nasser Al-Kelaifi, mas atendendo ao vício que os parisienses e o dito cavalheiro têm de comprar tudo o que lhes agrade sem olhar a preços e, percebendo ainda que agora tem um minhoto de gema, Luís Campos, no comando das operações, sugiro ao CEO da nossa cidade, Ricardo Rio, que aumente para valores obscenos, as cláusulas de rescisão que, espero, existam sobre os nossos monumentos e/ou espaços de lazer.
A gula parisiense pode levar a que queiram o Arco da Porta Nova para juntar ao Arco do Triunfo; que não lhes chegue a Notre Damme e queiram a Sé de Braga, o Bom Jesus e o Sameiro; que ao Parque dos Príncipes queiram juntar o parque da Ponte; que aos Campos Elísios queiram anexar o Campo da Vinha e o Campo das Hortas; que ao Louvre queiram associar o Museu dos Biscainhos; que à Ópera Nacional queiram juntar o Theatro Circo; que às inúmeras escadas da Torre Eiffell, queiram associar os 573 degraus do escadório do Bom Jesus, que, por sinal, mesmo ao lado, também tem elevador; que queiram incluir o Jardim de Santa Bárbara no jardim do Luxemburgo; que queiram tornar o rio Este um afluente do Sena e, por fim, percebendo que aeroportos ou aeródromos que não estejam nos arredores de Lisboa não interessam ao Sr. Costa e C.ª, queiram juntar o aeródromo de Palmeira ao aeroporto Charles de Gaulle.
Espero, sinceramente, que a gula consumista dos novos donos do mundo futebolístico (em parceria com o Manchester City) não os leve a querer, também, anexar à tradicional baguete que transportam religiosamente no sovaco, os nossos rojões, o pica no chão, as papas de sarrabulho, o bacalhau à narcisa, as tíbias, fidalguinhos, moletinhos, frigideiras ou o pudim abade de priscos, pois aí sim, seria a tempestade perfeita e com “condimentos” para uma guerra sem quartel, uma vez que em Braga podemos ficar sem jogadores e sem (visitar) monumentos, jardins, ou outros locais de culto, mas, sem uma boa refeição acompanhada de doçaria (conventual ou não) é que não nos entendemos.
Fazendo votos para que na nova época desportiva não venha a ser obrigado a escrever em francês para atender aos novos milhões de seguidores, que se adivinham, despeço-me dos leitores do Diário do Minho, até setembro.
Autor: Carlos Mangas