Este ano é o 90.º aniversário da descoberta da penicilina. Um excelente antibiótico que ainda é usado com sucesso em algumas infeções, como a amigdalite bacteriana. Reparem que foi “descoberta” e não inventada. Há muito, muito tempo que já existem antibióticos. E quem os fabrica? Bactérias!
Para quê? Para matar outras bactérias e assim sobreviver num mundo muito competitivo ainda que microscópico. O que significa que quem os fabrica tem que lhes resistir, porque as bactérias não são suicidas. Isto quer dizer que mecanismos de resistência aos antibióticos devem existir pelo menos há tanto tempo como os próprios antibióticos.
Há quanto tempo? Pelo menos há 2 mil milhões de anos… Parece incrível? Talvez, mas em 2011, no Novo México (EUA), numa gruta que esteve isolada da superfície (e do homem) pelo menos nos últimos 4 milhões de anos, foram descobertas bactérias que eram naturalmente resistentes a pelo menos uma classe de antibióticos usados para tratar infeções nos nossos dias, alguns sintetizados apenas depois de 1980, o que, naturalmente, impossibilitou qualquer contacto prévio entre essas bactérias e esses medicamentos.
Primeira conclusão: depois de 2 mil milhões de anos de evolução, provavelmente as bactérias já inventaram todo o tipo de antibióticos para comprometer a vida das suas vizinhas e acessoriamente todos os mecanismos de resistência para se proteger. Sendo assim, resistência aos antibióticos que ainda irão ser criados (e nas três últimas décadas foram muito poucos) já existe na natureza. A resistência é inevitável.
Até parece que a resistência aos antibióticos, esse evento nefasto que poderá matar quase 50000 portugueses até 2050 (segundo a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), é independente do uso desses medicamentos. Isto é parcialmente verdade, porque mesmo que eliminássemos todo o uso desadequado de antibióticos, a resistência emergiria ainda assim.
O uso apropriado aplica a mesma pressão de seleção de resistências que o mau uso. A grande diferença é que este mau uso pode e deve ser suspenso imediatamente porque não traz nenhum benefício aos doentes. Em contraste, o uso adequado é plenamente justificado porque melhora o prognóstico das infeções bacterianas. E é este o propósito do Dia Europeu do Antibiótico, assinalado anualmente a 18 de novembro, que pretende alertar para o uso racional destes medicamentos.
Segunda conclusão: deve-se eliminar o uso desadequado de antibióticos não para impedir as resistências mas para retardar o seu surgimento. O benefício individual do bom uso de antibióticos num determinado doente sobrepõe-se ao prejuízo coletivo do efeito das resistências que forem induzidas. Não há nada que permita defender o uso de um antibiótico quando não há necessidade.
Então quando é que os antibióticos são necessários? Eles são fornecidos exclusivamente mediante receita médica, porque só um médico está habilitado para os prescrever após diagnosticar uma infeção bacteriana. Exemplos? Pneumonias, abcessos e outras infeções da pele, infeções urinárias. Claro, não estão incluídas infeções víricas como constipações, gripes, bronquites agudas e sinusites.
Permita-me uns conselhos finais: não peça antibióticos ao seu médico, não aconselhe os seus familiares e amigos a tomar antibióticos sem receita e não guarde antibióticos em casa depois de completar o tratamento. É que nem sempre é necessário tomar toda a embalagem, mas só o seu médico pode decidir a duração do tratamento.
Autor: Alexandre Carvalho