1. Vejo na mensagem dos nossos Bispos para a Quaresma e a Páscoa que se aproximam um convite a que tome consciência do amor de Deus para comigo e a que, no dia a dia, corresponda a esse amor.
Quaresma e Páscoa. Duas vivências unidas e libertadoras. O Mistério Pascal não se limita à contemplação da paixão e morte de Jesus. À tristeza da Sexta-feira Santa segue-se a alegria da Páscoa da Ressurreição.
Cristo não ficou preso no sepulcro. Venceu a morte. E como Ressuscitado continua vivo nomeio de nós. Vivo na Palavra, na Eucaristia, nas assembleias reunidas em seu nome, na pessoa dos mais carenciados. «Continua, diz a mensagem, a visitar-nos nas realidades e circunstâncias da vida em que cada um se encontra, oferecendo o seu coração de irmão e a sua mão protetora e misericordiosa». A presença libertadora do Ressuscitado permanece em nós todos os dias.
«Ele está no meio de nós», dizemos em resposta à saudação «o Senhor esteja convosco».
2. Porque amor com amor se paga, à consciência de que sou amado por Deus segue-se o dever de lhe corresponder, amando-O na pessoa dos homens, seus filhos e meus irmãos. Pondo em prática o Mandamento de Jesus (João 13, 34-35).
É uma ilusão pensar que amo Deus sem amar os outros. «Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê» (1.ª João 4, 20).
3. Amo Deus sendo cada vez mais autêntico o meu relacionamento com Ele. Fazendo com que o que considero a prática religiosa não seja um conjunto de gestos mecânicos e de palavras rotineiras que não influem na vida; que não levam à conversão.
É sedutora a tentação da religião feita espetáculo ou manifestação de folclore que enche o olho de quem vê, arranca momentâneos aplausos, põe fotografias nos jornais, mas não movimenta vontades nem purifica corações.
«Jejuar, dar esmola e rezar são três verbos imprescindíveis na vivência quaresmal. Contudo, como os entendemos? Como os vivemos?» - pergunta-se na mensagem.
Uma coisa é praticar atos religiosos, dentro ou fora da igreja, ou trazer objetos religiosos, e outra viver religiosamente. «Mostra-me a tua fé sem as obras¸ que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé» (Santiago 2, 18).
Se o que faço não está em consonância com o que digo… Se com atos desminto as palavras… Relembro Santiago (1, 28): «Se alguém se considera uma pessoa piedosa, mas não refreia a sua língua, a sua religião é vazia».
Mais importante do que dizer «Senhor, Senhor» é fazer a vontade de Deus (Mateus 7, 21).
4. Vejo na mensagem um convite a que, quer como penitente quer como ministro, procure celebrar cada vez melhor o sacramento da Reconciliação. Um sacramento quase silenciado. Desvalorizado. Às vezes, porventura, mal tratado. Mas muito útil e muito necessário.
Como posso comungar se me não sinto reconciliado com Deus, com os outros, comigo mesmo?
Isto de deixar a oferta diante do altar e, antes de a apresentar ao Senhor, ir, primeiro, reconciliar-se com o irmão (Mateus 5, 23-24) é uma advertência muito séria.
É tranquilizante e consolador agarrar a mão libertadora que Deus me estende, participar no banquete da Sua misericórdia e ser instrumento dessa mesma misericórdia.
Autor: Silva Araújo
Reflexão sobre uma mensagem
DM
16 fevereiro 2023