A pandemia da Coronavirus SARS-Ca-2 que nos atingiu veio espoletar um acervo de questões cujas respostas são de difícil concordância e assentimento, por exemplo, em quem devemos confiar, nos governames ou nos cientistas, quando nos mandam praticar o isolamento, o confinamento, o uso de máscara ou ser vacinado?
É que, muitas vezes, temos assistido ao desentendimento entre estas duas entidades quanto às medidas tomadas e postas em prática, mesmo recorrendo ao uso impositivo de legislação; e os cidadãos, face a esta realidade, assaltados são pela dúvida e assertividade das medidas levadas a cabo e, quantas vezes se negam a cumpri-las apoiados nos princípios de liberdade individual expressos na Constituição da República.
Obviamente que os governantes se movem por interesses económicos, sociais e de segurança de pessoas e bens, enquanto as preocupações dos homens de ciência são a saúde e bem-estar, bem como a pesquisa e aplicação dos meios que as garantam, combatendo e, se possível, erradicando as causas da doença, e, perante esta realidade, dificil é tomar posição por qualquer das partes, pois o ideal seria a conjugação de interesses esforços e medidas.
Depois, os governantes podem recorrer à força, legislativa, judicial e policial para incremento das medidas que tomam o que já não acontece com os cientistas, cuja única arma ao seu alcance é a persuasão e o apelo à consciência individual, e todos sabemos que a natureza humana cede mais facilmente às razões do concreto do que às do abstrato ou seja teme mais o uso da força e da lei do que o uso do dever ou do direito individual ou coletivo.
Assim, segundo estudos e inquéritos realizados a conclusão a que se chegou é de que as pessoas inquiridas declararam confiar mais nos cientistas do que nos governantes, porque aqueles revelam mais honestidade no que dizem ao público não escondendo as dúvidas e reservas que podem imergir dos estudos que realizam, e evidente é que se os cientistas se movem por factos, já os governantes, porque políticos são, agem mais por convicções ideológicas e intenções politico-partidárias.
Todavia, muito para além desta problemática subjacente à pandemia, outras preocupações não menos relevantes nos vieram alarmar e preocupar; por exemplo, o meu bom leitor bem sabe que a pandemia nos veio alertar para o facto de que a liberdade, a solidariedade e a confiança mútua serem valores muito relativos e facilmente manipuláveis e suprimidos.
Depois, até a afetividade, o imenso mundo dos afetos e das relações interpessoais, sociais e familiares, foram abalados e restringidos; e o conforto e gozo de um simples aperto de mão ou abraço, de um beijo ou de um carinho, como, até, a força e premência da palavra, do diálogo e da loquacidade congelados foram como instrumentos óbvios da propagação da infeção, e, então, a solidão, a ansiedade e o medo que nos assalta e mais preocupantemente aos fragilizados, doentes e dependentes traz consigo o vazio, a angústia e o desespero que se transformam, muitas vezes, em pronúncios de morte.
E igualmente mais dramático é termos de assistir impotentes e deserdados à ausência de despedida, aos funerais furtivos e apressados e à negação do luto de tantas e tantas vítimas; e, sobretudo, sabermos que morrem sós, sem o aconchego, a despedida, o afeto, o calor de uma mão ou palavra amiga e aconchegante.
Agora, melhor pensando e concluindo, não vai ser fácil regressarmos à normalidade social e familiar, embora seja enorme a vontade de o conseguir, mas continua a ler-se no olhar e na atitude das pessoas o receio da aproximação e a recusa mesmo do contacto, mormente em circunstâncias normais.
E que o número de infeções, quer a nível nacional, quer a nível internacional e as constantes variantes do vírus não deixam margem para dúvidas de que a sua perigosidade é notória; e quando olhamos ao número de mortos a ela associados, então é caso para nos sentirmos francamente angustiados e duvidosos de que esta maldita peste que nos atingiu veio para ficar e durar, porém, que este não seja motivo para baixarmos as armas e deixarmos de lutar.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado